terça-feira, 29 de julho de 2008

Destruição criativa


"Todo ato de criação é, antes de tudo, um ato de destruição"
Pablo Picasso

Existe um conceito, de que lançaram mão pensadores como Bakunin e Nietzsche, chamado "destruição criativa" que foi amplamente difundido através da visão do economista Joseph Schumpeter acerca do capitalismo. É um conceito econômico poderoso, uma vez que dá conta de explicar muito da dinâmica das transições na indústria que rompe com antigos paradigmas e é fundamento de teorias do crescimento endógeno e da economia evolucionária.

Zzzzzzzzz... Tá, é um papo chatíssimo que quase não interessa a ninguém e, por isso vou cortar o discurso enciclopédico porque acho que já deu pra pegar o espírito da coisa. Aliás está bem sintonizado com o compasso deste mesmo blog; e se você ainda não pegou, a citação do Picasso ali em cima talvez te ilumine...

Se criar é destruir, podemos entender porque é necessário haver uma era de destruição. Aliás , a própria visão cíclica do hinduísmo que conta o tempo universal em eras que se sucedem infinitamente, mostra que Kalyug irá conduzir os homens de volta à era primordial, como está escrito nos puranas:

"Quando os ritos ensinados pelos textos tradicionais e as instituições estabelecidas pela lei estiverem prestes a desaparecer e estiver próximo o termo da idade obscura, uma parte do ser divino existente pela sua própria natureza espiritual segundo o caráter de Brahman, que é o princípio e o fim... descerá sobre a terra...

Sobre a terra, restabelecerá a justiça: e as mentes dos que estiverem vivos no fim da idade obscura despertarão e adquirirão uma transparência cristalina. Os homens assim transformados sob a influência desta época especial constituirão quase uma semente de seres humanos e darão o nascimento a uma raça que seguirá as leis da idade primordial (satya yuga)".

Daí, voltando à perspectiva materialista da discussão, questiono se todo esse discurso de sustentabilidade, responsabilidade social, e etc de que corporações e governos se apropriaram, é legítimo e se realmente pode instaurar uma mudança e contribuir para um mundo novo.

É bom acreditar que sim. Mas é melhor acreditar que uma nova era não vai surgir do exterior para o interior de cada um. É necessário que cada um faça sua faxina interna e destrua o que não serve mais, o que não cabe mais e desperte para uma consciência nova (que na verdade é velha, porque é primordial. É a consciência que perdemos). Considero que assumir uma atitude criativa perante cada instância da vida terrena só é possível se a alma for purificada.

Tem uma frase do Erich Fromm que dá uma dica sobre como as condições para o despertar da criatividade provém do íntimo: "Antes de tudo, é indispensável estar perplexo." É preciso estar pasmo ante à realidade para olhar o que todo mundo vê e enxergar além do que enxergam.

No entanto, perplexidade somente não é o bastante. Se os grandes artistas fossem preguiçosos o suficiente para deixar que suas obras durassem apenas o momento da inspiração, os museus estariam cheios de telas em branco e eu não poderia recorrer a esta imagem para terminar o post querendo dizer que criatividade é só um comichão que sussurra ou grita no ouvido da gente "vai trabalhar"!

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