sábado, 29 de novembro de 2008

Ir para casa


É de 2002, mas podia ser de 1654 ou 2189. O tema desta narrativa é universal e atemporal. Eu sempre me emociono com boas histórias que são simples e que bem poderiam ser vividas por qualquer um! Na verdade, acho que o que encanta nela é que de fato cada um de nós vive a sua própria versão desta mesma história... trata-se da trajetória arquetípica de todo ser humano.

Terra de Sonhos conta a história de como uma família irlandesa sai em busca do sonho americano e cada agrura do caminho os une e os ensina. Histórias sobre famílias que superam unidas as adversidades me cativam muito, pois refletem o conceito de compromisso com a evolução espiritual de todos os membros dela. Histórias sobre crianças que chegam e colorem a vida dos adultos provocando uma simbiose irreversível de cuidado e aprendizado tocam lá no fundo do meu coração, porque refletem o conceito de responsabilidade e reciprocidade.

Esta história expõe como cada perda que sofremos é ao mesmo tempo adubo para a esperança de cada sonho que nutrimos. Expõe como a fuga de um passado doloroso muitas vezes nos guia sempre de volta até que tenhamos coragem de expurgar cada dor abandonada. Expõe como morte e nascimento são um só conceito, e uma só força. Expõe como a luz pode sim nascer nas trevas e por mais tênue que pareça é capaz de afugentar toda a escuridão.

Esta história é capaz de mostrar o poder avassalador de esperanças que são negadas a cada manhã, agonizam no percurso do dia e a beleza da lua pode insuflar ânimo novo para que se fortaleçam durante o sonho! É uma história sobre como mágica e milagre são elementos tão presentes que às vezes nos esquecemos de enxergá-los.

É uma obra sensível sem ser sentimentalóide, que equilibra extremos. É universal sem parecer generalizante, que contempla o particular e individual, e cresce à medida que é revelada até mostrar que ascese (que também pode ser chamado de "ir para casa") tem a ver com saber o que é bagagem para carregar e o que é para deixar pra trás! Enfim, uma questão de equilíbrio.




sexta-feira, 28 de novembro de 2008

H2O


Solução in-crí-vel que mostra como o design pode ajudar a mudar o mundo! Acho tão bom ver uma idéia ou conceito assim sintetizado numa imagem simples, que qualquer um bate o olho e sabe do que se trata... O design resolve o problema da percepção deste fato urgente, simplesmente criando imagens comparativas.

Mas, em tempo: olha como é grave o problema da água. Saber que são gastos mil litros de água para produzir 1 único litro de leite me faz pensar se faz sentido continuar a beber leite! Acho que a resposta é óbvia né... Pelo menos enquanto a indústria de alimentos funcionar nas bases que funciona. E a roda só pode ser invertida se os consumidores por quem este mercado se movimenta, mudarem seus comportamentos de consumo. O rabo de uma coisa é a boca da outra!

Na ilustração, cada gota de água equivale a 50 litros de água virtual! Aliás, isso me lembra Magritte. Isto não é um cachimbo! A imagem de uma coisa não é a coisa em si... Então cuidado: Isso ali em cima não é água! Água virtual não é água real... Enquanto na tela as gotinhas estão ali bem paradinhas, no mundo real elas estão acabando.

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

la mort


"Você foi feliz nessa vida"? "Sua vida fez outras pessoas felizes"?
Segundo a poética crença egípcia, estas duas perguntas simples eram os fiéis da balança que indicavam se, depois da morte, aquele espírito podia ir para o paraíso. Bastava uma única resposta negativa e Anúbis apontava com seu cetro direto para o caminho da danação.

A morte soa assustadora para muitos. Mas porque expõe como a vida foi de fato vivida, ela é o único extremo capaz de nos mostrar de que forma ela DEVE ser realmente vivida. Não sou fã de dogmas, detestos regrinhas que generalizam e condenam cada nuance da existência individual a abranger o âmbito comum e tornar-se desesperadamente uniforme e fechada. Isso não combina com a idéia de a vida ser um contínuo colher de experiências.

No entanto, o âmbito comum é ao mesmo tempo indispensável para que cada experiência seja real e, portanto, válida. Ser feliz está intrinsecamente condicionado a fazer os outros felizes.
É uma lei do universo. Como a máxima ditada pelos antigos que diz: cuidado, os egoístas morrem sós. Na verdade, esse pensamento é equivocado. Todos morremos sós. A morte é um portal que não se atravessa de outro modo, a não ser sozinho. Mas associar egoísmo e solidão é o mesmo que associar altruísmo e integração, só que do outro lado do espelho.

Outra coisa de que não gosto, o maniqueísmo que impõe determinismos condicionantes e portanto, dogmáticos. E, no entanto, há que se enxergar cada extremo... o positivo e o negativo, que são como abismos enormes de cada lado do caminho enquanto a trilha é como o fio de uma faca no qual nos equilibramos do nascimento até a morte.

Pra muita gente essa imagem faz um sentido tremendo. E aí fico especulando... será que então,
caminhar junto é como alargar um pouquinho essa estrada, tornando-se mais livre e dessa forma, evitando cair nos abismos? Será que é por isso que os homens são seres gregários?

Pode soar estranho colocar o Bem ideal como abismo assustador... mas para nós, que somos imperfeitos eu acredito que é assustador sim. É inconcebível. Nossa visão limitada só faz enxergar o espaço entre dois limiares, mas nunca o que há de lá das fronteiras... Por isso a vida terrena depende de equilíbrio e vigilância constantes...

Mas aí, quando morremos... cai finalmente o pano. E podemos ver. Bem estilo The Doors, mas sem todo o LSD: Quando as portas da percepção forem abertas, as coisas irão surgir como realmente são, infinitas! Infinitas, porque são capazes de abranger os dois extremos, ao mesmo tempo... e então não há mais subterfúgios ou álibis.

Nossa, um post tão misterioso quanto a própria morte!
C'est fini.

terça-feira, 18 de novembro de 2008

O futuro da comida



Expandindo o conceito de que você é o que você come, eu a-m-e-i a simplicidade com que este filminho do Ministério da Agricultura do Japão explica a intrincada idéia de que a humanidade é o que a humanidade come. Ou seja, os hábitos alimentares de uma sociedade influenciam diretamente na paisagem social-política-econômica e, sobretudo, ambiental circundante!

O roteiro é um apelo para que o cidadão japonês, enquanto elemento de uma nação que importa a maior parte da comida que consome, se torne consciente do impacto que seus hábitos alimentares (que mudaram drasticamente com o advento da globalização) causam tanto no micro como no macro ambiente. Além disso, fatores externos (como emergências climáticas, exaustão do solo de cultivo, crescimento populacional mundial, etc) combinados à hábitos pessoais aceleram a bomba relógio que a humanidade, terrorista de si mesma, atou à expectativa de vida do planeta.

Claro que o roteiro não é assim tão apocalíptico quanto meu texto. Imagino que o ministério da agricultura japonês não possa ser tão dramático e alarmista quanto uma anônima pessoa cujo blog não é lido/comentado por ninguém e que conta com a soma surpreendente de 1 (um) seguidor(es)!!! (Valeu, mãe.)

Enfim, crises de ego à parte, o filminho desdobra todo o panomarama desde a mesa do jantar até a crise global de alimentos para alertar sobre a urgência de voltar aos velhos hábitos, consumir produtos regionais e assim salvar o planeta. Eu nunca gostei da visão positivista que quer fazer acreditar que os indíviduos são engrenagens de uma máquina... e muito embora, a estética do vídeo pareça adotar uma narrativa mecanicista, ele não comete esse pecado.

Talvez o ritmo fordiano da edição não me pareça antipático aqui porque o objetivo não é de exploração, ao contrário, é sim de preservação! E coloca o individuo como ponto de partida para cada mínima e necessária transformação. Como naquela metáfora da lagarta que se transforma em borboleta, cujo bater de asas é capaz de alterar o curso de um furacão.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Pra onde vai esse ônibus?

É uma coisa boba e corriqueira, mas estou ficando triste com o fato de que a humanidade precise de plaquinhas que digam como ser um ser humano. Eu ando de ônibus e metrô e vejo as plaquinhas de assento preferencial e fico pensando: a que ponto chegamos para não sabermos mais que devemos dar preferência para idosos, mulheres grávidas e deficientes?

E ainda presencio quem se faz de cego até aos apelos impressos!

Hoje abri uma revista e dei de cara com um anúncio sobre consciência negra, cujo apelo era sobre respeitar e valorizar o potencial de cada um e não ver diferenças. Mas quer enfâse maior para a diferença do que hastear uma bandeira sobre ela ou separar cotas raciais?

Para mim isto só escancara a hipocrisia imperativa das relações humanas que escolhemos construir ao longo de séculos. Nada encoraja a ter atitudes que partam do íntimo de cada um. Não! Basta ter uma cara social, uma máscara para usar em público, basta pendurar plaquinhas por aí e criar absurdos como cotas para dizer que somos civilizados.

Pode soar utópico até para os mais românticos, mas não seria tão mais simples um mundo onde gentileza não rimasse com hipocrisia e sim com espontaneidade?! Onde não precisassêmos lançar mão de argumentos como "não ver as diferenças" para acreditar na verdade de que diferenças existem e graças a elas somos indivíduos, e que devíamos aprender a respeitar cada indíviduo (ao invés de fazer vista grossa às diferenças) simplesmente porque isso implica ser correto e ético?! E não apenas polido ou treinado na cartilha do politicamente correto, criando grupos e guetos dentro dos quais os indíviduos se enquadram e tornam-se massa? Amorfos, indistinguíveis e eternamente intangíveis justamente no que define cada um deles como um ser individual: a diferença!

O que fizemos até hoje é perguntar a cada um num teste de multípla escolha (reduzida a talvez quatro variáveis, se muito): Você é diferente, como item a) fulano / b) ciclano / c) beltrano ... ? E daí colocamos um rótulo para assegurar que dentro da respectiva gavetinha paradigmática todos estão classificados, contabilizados e controlados!

E para ser sincera, as plaquinhas do ônibus são incompletas. Deveriam dizer: Este assento é preferencial para idosos, gestantes, deficientes, quem estiver carregando crianças ou muitas sacolas, quem sofre da coluna, quem vai descer num ponto bem depois do seu, quem precisa cochilar antes de chegar no trabalho porque acorda de madrugada para pegar o ônibus... e impreterivelmente: se houver uma mulher em pé no ônibus, não deviam haver homens sentados! humpft.