quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Pra onde vai esse ônibus?

É uma coisa boba e corriqueira, mas estou ficando triste com o fato de que a humanidade precise de plaquinhas que digam como ser um ser humano. Eu ando de ônibus e metrô e vejo as plaquinhas de assento preferencial e fico pensando: a que ponto chegamos para não sabermos mais que devemos dar preferência para idosos, mulheres grávidas e deficientes?

E ainda presencio quem se faz de cego até aos apelos impressos!

Hoje abri uma revista e dei de cara com um anúncio sobre consciência negra, cujo apelo era sobre respeitar e valorizar o potencial de cada um e não ver diferenças. Mas quer enfâse maior para a diferença do que hastear uma bandeira sobre ela ou separar cotas raciais?

Para mim isto só escancara a hipocrisia imperativa das relações humanas que escolhemos construir ao longo de séculos. Nada encoraja a ter atitudes que partam do íntimo de cada um. Não! Basta ter uma cara social, uma máscara para usar em público, basta pendurar plaquinhas por aí e criar absurdos como cotas para dizer que somos civilizados.

Pode soar utópico até para os mais românticos, mas não seria tão mais simples um mundo onde gentileza não rimasse com hipocrisia e sim com espontaneidade?! Onde não precisassêmos lançar mão de argumentos como "não ver as diferenças" para acreditar na verdade de que diferenças existem e graças a elas somos indivíduos, e que devíamos aprender a respeitar cada indíviduo (ao invés de fazer vista grossa às diferenças) simplesmente porque isso implica ser correto e ético?! E não apenas polido ou treinado na cartilha do politicamente correto, criando grupos e guetos dentro dos quais os indíviduos se enquadram e tornam-se massa? Amorfos, indistinguíveis e eternamente intangíveis justamente no que define cada um deles como um ser individual: a diferença!

O que fizemos até hoje é perguntar a cada um num teste de multípla escolha (reduzida a talvez quatro variáveis, se muito): Você é diferente, como item a) fulano / b) ciclano / c) beltrano ... ? E daí colocamos um rótulo para assegurar que dentro da respectiva gavetinha paradigmática todos estão classificados, contabilizados e controlados!

E para ser sincera, as plaquinhas do ônibus são incompletas. Deveriam dizer: Este assento é preferencial para idosos, gestantes, deficientes, quem estiver carregando crianças ou muitas sacolas, quem sofre da coluna, quem vai descer num ponto bem depois do seu, quem precisa cochilar antes de chegar no trabalho porque acorda de madrugada para pegar o ônibus... e impreterivelmente: se houver uma mulher em pé no ônibus, não deviam haver homens sentados! humpft.

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