sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

the potential you'll be, that you'll never see



A Alma Imoral, do rabino Nilton Bonder, uma sofisticada análise de textos bíblicos e de parábolas judaicas sobre os fatos da vida apresenta, em uma passagem, a história de um homem rico que foi aconselhar-se com um rabino. Logo no início da consulta, quem pergunta é o religioso:

– O que você costuma comer?
– Sou bastante modesto em minhas demandas. Pão, sal e água é tudo do que necessito – respondeu o homem, achando que seria elogiado pela humildade.

– O que você acha que está fazendo?
Deve comer carne e beber vinho como uma pessoa rica [que é].
Mais tarde, os discípulos questionaram a espantosa reação do rabino, que explicou prontamente:

– Até que ele coma carne bovina e beba vinho, não vai compreender que o homem pobre precisa de pão. Enquanto ele se alimentar de pão, vai achar que o pobre pode alimentar-se de pedras.

Aquele que não faz uso de todo o potencial de sua vida de alguma maneira diminui o potencial de todos os demais. Se fôssemos todos mais corajosos e temêssemos menos a possibilidade de sermos perversos, este seria um mundo de menos interdições desnecessárias e de melhor qualidade.

Esse texto está na coluna do Eugênio Mussak na edição deste mês da Revista Vida Simples. O texto dele é sobre o real valor do dinheiro, e é muito bom! Mas esse trecho me chamou especial atenção. Além de falar da falsa humildade, nos mostra como ser verdadeiramente agradecidos. Vou repetir essa frase que contém uma chave muito importante:

Aquele que não faz uso de todo o potencial de sua vida de alguma maneira diminui o potencial de todos os demais.

Quando articulamos este pensamento ao post anterior, mais uma vez, podemos enxergar que nunca é demais responsabilizar a si mesmo quando vemos algo errado! O que recebemos devemos devolver na mesma medida, somente assim podemos demonstrar verdadeiramente nossa gratidão! Fica parecendo uma contradição com toda a minha opinião sobre o consumo tão regularmente expressa nesse blog... mas não é! Pois o texto não precisa tratar apenas de bens materiais, podemos utilizar a metáfora para falar de conhecimento também. E mesmo que seja sobre bens materiais faz sentido também, por causa da falsa humildade e porque você ainda pode ser um consumidor consciente.

A história também nos dá uma pista sobre o sentido verdadeiro do amor severo. Quando ele diz que devíamos ter menos medo de ser mais perversos, não acho que queira dizer que devemos ser sádicos. Acho que quer chamar atenção para uma coisa muito recorrente:Eu tenho uma amiga que diz que há pessoas que acham que a vida lhes deve alguma coisa! Estão sempre insatisfeitas, sempre se vitimizando e buscando que os outros lhe retribuam algo que já doaram. Estas pessoas não estão fazendo uso de seu potencial e estão tirando algo dos demais! A vida não nos pode dever nada, nunca! Quando doamos estamos sempre retribuindo e não adquirindo créditos, logo não é possível que queiramos nos colocar um rótulo de "coitadinhos" para que alguém se compadeça de nós e nos doe mais do que precisamos! E são muitos os "coitadinhos" e são muitos os que se compadecem deles também. Devíamos apenas enxergar que não há vítimas. Há apenas pessoas buscando desenvolvimento enquanto outras buscam fechar-se dentro de paradigmas de uma inconsciência coletiva totalmente fora de propósito, apenas para poderem continuar dormindo.

Mais uma vez o apelo de arregaçar as mangas, ao invés de responsabilizar os outros, faz sentido nessa parábola sobre vinho e pão!

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