quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

El Che

Esse é um post que venho ensaiando há um tempo... Assisti ao trailer do filme/biografia Che (e não vejo a hora de assistir ao filme), de Steven Soderbergh que traz Benicio del Toro no papel do grande revolucionário romântico que acreditava ser possível endurecer sem jamais perder a ternura. E uma das coisas que me intrigaram foi justamente isso: para Che a mais importante qualidade que um revolucionário deve possuir é o amor. Amor pela humanidade, pela justiça e pela verdade. No entanto, ele é tido por muitos como assassino cruel e um psicopata covarde (segundo uma carta de um leitor indignado da Revista Superinteressante... aliás toda a seção de cartas em que publicaram as opiniões referentes à edição de janeiro é tão arrebatadoramente polêmica que apresenta visões extremas e acaloradas sobre o médico argentino que se tornou mito), então onde está o amor?

Acho dificil julgar a luta de um homem que se fundamenta no amor em seu mais puro sentido e que colocou a própria vida à disposição de um povo que nem era o seu. Acho dificil ter uma opinião extrema sobre um homem que era isso: um homem. Não acredito que o objetivo de sua luta era tornar-se um herói ou mito perante a sociedade. Quem cria heróis ou mitos são os governos e as próprias pessoas telespectadoras que legitimam essas vozes. Aliás, no mesmo trailer, uma jornalista pergunta à Guevara: "Como você se sente sendo um símbolo?" e ele responde "Símbolo do que?". E aí o trailer acaba.

E aí é que começa: Símbolo do que? é a pergunta ponto de partida para se descobrir quem foi Che. Mas a verdade é que quem ele foi não é mais tão importante quanto saber quem ele é. Ou senão, não teria mais relevância falar sobre ele agora que o socialismo ruiu. Não continuamos a falar dele porque ainda queremos acreditar no socialismo, continuamos a falar dele porque queremos descobrir o que há para aprender sobre o homem que ele ainda é. Que sentido ainda faz nos dias de hoje.

A chave para isso não está no julgamento que podemos fazer das ações de Che naquele passado em que viveu. Afinal o que sabemos daquele passado vem intermediado por tantas vozes que nada mais poderá se apresentar claro e transparente. No trailer ele diz: "Para sobreviver aqui e para triunfar, é preciso viver como se já estivesse morto". Quanto se pode entender dessa afirmação?! Como se vive como se já estivesse morto? Eu acredito que só quem pode responder é o próprio Che. Em seu contexto suas escolhas eram a patria ou a morte. Em nosso contexto é possível que tenhamos muitas outras escolhas. Então é preciso entender que se revolucionários são guiados pelo amor à humanidade, Che foi prisioneiro de uma condição muito triste. Pois tudo o que sabia fazer era lutar por justiça. Por isso que foi um político incompetente e por isso morreu da forma horrível como morreu. Era romântico porque acreditava que podia lutar por liberdade e entregar um mundo mais justo para milhares de pessoas. Não via que a mudança se faz no interior de cada um. Que é preciso que cada um mude para que tudo ao redor mude.

O mundo que ele via habitava somente em seus olhos e não nos olhos dos outros. E não é possível transformar o mundo se todos não o enxergam modificado! Che permitiu que o amor puro que sentia o guiasse, talvez tenha se deixado cegar pelo que seu coração mostrava. Não poderia ter vivido de outra forma. E no entanto, as pessoas teimam em querer guardá-lo ou na gaveta do bonzinho ou na do malvado. Por que não percebem que o que realmente importa é ver que ele teve coragem de deixar que um ideal guiasse sua caminhada pela vida? E que se cada um seguisse um ideal grandioso por sua vez, os olhos de todos poderiam contemplar um mundo verdadeiramente modificado.

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