sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Ssshhhh...


"A gente quer se afastar de si próprio... Pra isso é que o muito se fala.
O senhor sabe o que é o silêncio?
O silêncio é a gente mesmo, demais"


Guimarães Rosa


Essa frase linda abre uma matéria sobre o silêncio que saiu na revista TPM de dezembro. O artigo discorre sobre como todos os gadgets eletrônicos preenchem nosso cotidiano e nos obrigam a ficar ininterruptamente online. O impulso por se sentir constantemente conectados (e falsamente integrados) faz com que nos afastemos de nosso próprio interior e não nos aprofundemos em nada mais... No fim da matéria, o depoimento de uma mulher faz perceber que nem um retiro para meditação faz a voz de sua cabeça e coração se calarem. Acha impossível cessar sua conversa interminável de si para consigo própria. E entende que o fato de se calar para os outros fez com que se encontrasse consigo mesma, mesmo em sua eterna tagarelice.

Eu confesso que fiquei frustrada com a conclusão a que esta mulher chegou. Quero dizer, ela continua tão superficial quanto se continuasse falando pelos cotovelos com os outros. Afinal, continuou falando para si e sem se aprofundar. Sem fazer calar pensamentos que ocorriam como uma torrente, não pode entender a força que o silêncio contém. E mesmo no silêncio, são quantos os sons que nossa capacidade auditiva não permite ouvir? E que seres poderíamos ser se não tivêssemos nos esquecido de como ouvir "um astro pelo céu, a música do vento e a matéria em decomposição"?

Falando tanto, ela não pode perceber que o silêncio pode mesmo atuar como um fermento sobre determinado pensamento e fazê-lo crescer pois o liga a tudo o que é similar e da mesma espécie. E é esse o verdadeiro sentido de integração. Porque conecta pontos à partir do si mesmo, o que é demasiado individual, o eu genuíno. Talvez seja mesmo por isso que silenciar é tão dificil. Tememos as modificações que esta força pode causar, tememos encarar quem de fato somos. Preferimos flutuar na rotina vazia da superficialidade e deixar tudo como está.

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