terça-feira, 5 de abril de 2011

Fora de casa


Da abertura meio absurda ao desfecho comovente e terno, Bagdad Café me surpreendeu um tanto dia desses! Porque não, eu ainda não tinha visto esse filme alemão da década de 80 que, como lupa, expõe e amplia o que a gente vai escondendo embaixo do tapete das frustrações. Imagine ter coragem de jogar tudo pro alto e se deparar com uma realidade tão desolada quanto sua própria dor e ainda conseguir fazer florescer ali um pouco de esperança e beleza... Utópico? Até que não...

Jasmine, ou frau Münchgstettner, a alemã em férias no meio oeste americano, decide abandonar o casamento com um homem grosseiro e rude ali mesmo no deserto do Mojave, ou no meio do nada, chame como quiser. Esta é a cena 'ionescamente' absurda do começo da película. Aparentemente sisuda em seu tailleur e chapeuzinho tipicamente alemão ela vai parar no Bagdad Café, comandado por Brenda; uma negra durona. embrutecida pela vida de mãe solteira do deserto que ainda cria um neto e não consegue ter um relacionamento amoroso que compense e a valorize! Aliás, coincidentemente ela também acabara de mandar seu 'homem' pastar quando surge Jasmine.

A desconfiança de Brenda para com essa figura maciça e exótica chega a ser cômica. Por que Jasmine quer ficar ali no meio do nada?! Não quer que lhe chamem um taxi?! Não sabe quando volta pra Alemanha?! E mais adiante, por que tem roupas esquisitas de homem em sua mala?! (O fato é que Jasmine havia trocado a mala com o recente ex-marido por engano)... Mas Brenda demora pra aceitar a estrangeira, ou leia-se, demora a aceitar as mudanças que vêm junto?

Jasmine, por sua vez vai conquistando a todos, muito natural e espontaneamente. Improvisa com as roupas enganadas do marido e de repente, do mesmo jeito que transforma aquelas roupas em um estilo muito particular para si, vai transformando sua dor em um pouco de contentamento, o tédio dos locais em diversão, o arrelio do filho de Brenda em talento reconhecido, a escassez do lugar em aconchego... e finalmente a brutalidade de Brenda em amizade e doçura.

Sim, tudo isso já se percebe desde o inicio da história mas não há como não se surpreender com as pequenas e grandes mágicas transformadoras que Jasmine executa na pequena Bagdad... O segredo?! Pelo menos pra mim parece ser este: ela chega ali desolada e ao invés de olhar para si, olha em volta e se doa! Ao se entregar assim, àqueles desconhecidos todos, redime seu sofrimento e encontra  paz e reecontra até o amor! É sim uma história de 'o mundo é como nós somos' e eu sempre me emociono quando reconheço este eco! Falar em 'eco', a canção tema do filme é emoção extra: Contraste total com a insipidez do deserto a melodia retumba nos vazios dentro da gente e quase expurga nossa própria dor ali junto com as dores daquelas mulheres. Talvez seu tom hipnótico nos mostre que só vale a pena mergulhar nas feridas se for pra transformá-las em beleza.

Se você acredita que, em muitos casos, a felicidade está bem fora da zona de conforto e que para alcança-la temos que sair da bolha e ainda, que força interior é chuva no deserto, esta história tem boas chances de se tornar, assim de cara, seu mais novo filme querido!

2 comentários:

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