Não sei se à primeira vista faz sentido comentar dele aqui no blog... Mas, pra mim, este filme está afinadíssimo com o que venho pensando sobre revolução do próprio íntimo como alavanca para mudar o que nos cerca.
Choke apresenta os mesmos elementos de O clube da luta: o grupo de apoio, os mecanismos alternativos para burlar o sistema das coisas, o questionamento paranóico sobre a masculinidade na era contemporânea, o cara grandão e maternal... um anti-herói cujas fraquezas são cativantes. Não sei se porque quem o interpreta é o ótimo Sam Rockwell, mas por mais disgusting que ele soe nesse papel (como na maioria dos que ele interpreta), ainda é possível simpatizar com ele e com suas fraquezas.
Outra constante é o comportamento viciado que faz a teoria nietzschiniana do eterno retorno fazer cada vez mais sentido na minha cabeça. Numa perspectiva hinduísta: nada pode mudar a não ser que mudemos. Estamos presos num ciclo repetitivo até que possamos perceber que só chegaremos em outro destino se mudarmos o caminho pelo qual seguimos. Ou ainda: não adianta reclamar que não é possível alcançar determinado objetivo se, justamente, estamos nos encaminhando em direção oposta. Parece óbvio, mas é incrível como cismamos em fazer exatamente isso o tempo todo!
Não quero estragar a surpresa de quem ainda não assistiu o filme, mas uma das iluminações que o protagonista alcança diz que a vida pode fazer de nós muitas coisas: as pessoas e a sociedade nos determinam, nossa história pessoal nos determina, as experiências que tivemos nos definem... mas no agora, só nós mesmos podemos dizer e ser quem somos de fato. E é isso o que distingue a identidade de cada um.
E é essa espécie de consciência que, quando alcançada, faz temas centrais da vida da gente parecerem bobos e sem sentido. E aí, eles deixam de ser centrais. Deixam de importar... só porque tivemos a coragem de colocar o que acreditamos ser as nossas questões primordiais de lado. Porque tivemos a coragem de nos desapegar delas. E aí transmutamos o caminho que até então percorríamos e passamos a seguir na direção que leva ao destino desejado.
Mas isso foi o que eu escolhi ver... tem gente que só vai ver sexo no filme! E isso também faz parte da mesma lição.
A trilha sonora também é um espetáculo à parte. A música do Clap your hands and say yeah!, Satan said dance, dá o tom do que seja vício: é a exaustão. É o extenuante ato de repetir e repetir e repetir algo até tornar-se sem conteúdo, vazio, pobre e fraco. É o ciclo repetitivo do eterno retorno. O carma hinduísta. E ele é reproduzido exaustivamente até que mudemos de escolhas. Até que enxerguemos perspectivas, de fato, novas. E não álibis para continuar errando e acreditando na ilusão de que nosso anseio pela mudança é verdadeiro. Só pode ser verdadeiro quando verdadeiro for. Parece óbvio... mas é incrível como continuamos cismando...
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