domingo, 7 de setembro de 2008

Feliz, dos pés até a ponta do nariz.


Eu comprei esse livrinho pra minha filha... e o acharia despretensioso não fosse o display na livraria anunciando-o como "altamente recomendável pela Fundação Nacional do Livro Infanto-Juvenil". Mas só por isso mesmo... ah! e pelo fato de a autora ser premiadíssima...

Mas trata-se realmente de um livrinho lindo e despretensiosamente escrito, ilustrado ao estilo de Sempé do meu querido Le Petit Nicolas... E digo que justamente porque é tão simples é que é tão genuíno e verdadeiro.

Conta a história da ovelhinha Selma, cuja rotina de comer grama, ensinar as ovelhas bebês a falarem, comer mais grama, praticar um pouco de esporte, papear com a Dona Maria e dormir é a sucessão de eventos mais enfadonha de que já ouvi falar e a única que faz de Selma uma pessoa, ops, ovelha plena e feliz!

Surpreende que ao ser questionada sobre ter mais tempo ou ganhar na loteria, a fofíssima Selma responde a exata descrição de seu cotidiano monótono como citado no parágrafo ali de cima!

Antíclimax?! Ou receita literária pra pedagogia infantil pós contemporânea? Sim... faço-me essa pergunta porque se os contos infantis que embalaram os sonos ("pedagógicos?") de milhares de nós na infância, fossem estruturados desta mesma forma, não haveria uma quantidade medonha de princesas insatisfeitas que trocariam tudo para se aventurar na companhia do primeiro desconhecido com quem seus caminhos se cruzassem e, diga-se de passagem, a história terminar justamente onde devia começar com aquele frustrante, duvidoso e recorrente "foram felizes para sempre"...

Não haveriam estereótipos de heróis que refletiriam sombras amedrontadoras de síndromes de perseguição por bruxas, dragões e demais antagonistas cuja existência baseava-se única e exclusivamente em tramar o fracasso dos intentos daqueles assim-chamado heróis.

Não haveria a noção de que a felicidade é como um troféu conquistado somente depois de muito sacrifício, prejuízos e vicissitudes...

Poderíamos ter crescido ouvindo que a felicidade é uma coisa simples, tangível e que não a alcançaremos se a vislumbramos como finalidade. Que ser feliz é saber que a rotina diária é uma coisa chata e enfadonha, sem extremos de sexo e violência folhetinescos e ainda assim amar e sentir gratidão por onde se está e o que se tem de fazer... É por isso que mais tempo ou um prêmio da loteria não fariam nenhuma diferença no cotidiano da Selma.

A sabedoria desta simpática ovelhinha que mora dentro de um pequenino livro vermelho de capa dura sim, é que vai fazer toda a diferença no arcabouço cultural e artístico que vai nutrir os anseios da minha filha... tão simples quanto contar carneirinhos na hora de dormir!

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