quarta-feira, 30 de julho de 2008

A ilusão da beleza


Esse aqui é um filminho antigo do Dove, mas mostra escancaradamente como a ilusão se alastra nos tempos de agora. Ele termina dizendo algo do tipo "não há dúvidas de que nossa percepção da beleza está distorcida".

Então, quer dizer que eles pegam um menina qualquer com espinhas e cabelo meio ensebado, fazem nela um dia da noiva em fast foward, daí muitos cliques depois acham a foto certa e tudo podia acabar por aí, mas não! Nada vai pra produção sem uma sessão de photoshopagens extremas que transforma a menina sem gracinha do começo do filme em uma top-top-model que nós olhamos nos outdoors da cidade e imediatamente aceitamos consumir o que quer que seja que nos empurrem que contenha a fórmula mágica que vai nos deixar exatamente igual aquele rostinho bonito do anúncio!

Que fique muito claro que este post não é uma apologia à feiura... Mas, acorda! O mulherão do outdoor não se parece nem mesmo com a menina sem gracinha da sessão de fotos... Por que acreditamos que nós vamos ficar igual a ela?! Aliás, por que acreditamos que temos que ficar igual a alguém para sermos bonitas?!

Talvez porque desde a infância ganhamos pelo menos duas barbies por ano... Talvez porque em todas as histórias da TV a "princesa" e "heroína" é loira, magra, alta, de cabelo liso e todos os corações se derretem por ela... (e mesmo que a princesa Fiona tenha escolhido ser um ogro, duvido que alguém aqui faria a mesma escolha) ...Talvez porque uma meia dúzia de pentelhos da época do colégio fizeram piadinhas pejorativas a respeito de certa característica nossa e ficamos chorando trancadas no quarto por hoooras nos desesperando porque não éramos como a Maria Joaquina... Talvez porque as amigas que primeiro arranjaram namorados tinham um biótipo e uma personalidade bem diferentes da nossa...

Opa! Então, a finalidade de tudo isso é ser amada?! Perseguimos ideais de beleza padronizados que querem transformar todas as mulheres do mundo em barbies... em mulheres diferentes das mulheres que somos e ainda por cima, queremos que nos amem!? E agora eu bem poderia começar aquele papinho batido sobre se você não se ama, quem vai te amar e todos os jargões do gênero... mas poupe-me! Todos já sabemos disso. E nem vou começar o papo sobre anorexia e distúrbios alimentares e psicológicos porque acho deprimente por demais...

Acho que devemos perseguir a beleza sim. Mas não obsessivamente. E nem com o objetivo de sermos amadas só por isso. A beleza física é muito efêmera e superficial pra ser requisito de amabilidade. E eu desconfio que é belo de verdade quem persegue a beleza da alma, sem se violentar e sabendo preservar cada detalhe que o torne único e que o faz ser exatamente quem é... e ser feliz assim, dos pés até a ponta do nariz!

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Mulheres Perfeitas
Conceito de Beleza (tem que procurar o texto no indice)
A Beleza está na Diferença

terça-feira, 29 de julho de 2008

Destruição criativa


"Todo ato de criação é, antes de tudo, um ato de destruição"
Pablo Picasso

Existe um conceito, de que lançaram mão pensadores como Bakunin e Nietzsche, chamado "destruição criativa" que foi amplamente difundido através da visão do economista Joseph Schumpeter acerca do capitalismo. É um conceito econômico poderoso, uma vez que dá conta de explicar muito da dinâmica das transições na indústria que rompe com antigos paradigmas e é fundamento de teorias do crescimento endógeno e da economia evolucionária.

Zzzzzzzzz... Tá, é um papo chatíssimo que quase não interessa a ninguém e, por isso vou cortar o discurso enciclopédico porque acho que já deu pra pegar o espírito da coisa. Aliás está bem sintonizado com o compasso deste mesmo blog; e se você ainda não pegou, a citação do Picasso ali em cima talvez te ilumine...

Se criar é destruir, podemos entender porque é necessário haver uma era de destruição. Aliás , a própria visão cíclica do hinduísmo que conta o tempo universal em eras que se sucedem infinitamente, mostra que Kalyug irá conduzir os homens de volta à era primordial, como está escrito nos puranas:

"Quando os ritos ensinados pelos textos tradicionais e as instituições estabelecidas pela lei estiverem prestes a desaparecer e estiver próximo o termo da idade obscura, uma parte do ser divino existente pela sua própria natureza espiritual segundo o caráter de Brahman, que é o princípio e o fim... descerá sobre a terra...

Sobre a terra, restabelecerá a justiça: e as mentes dos que estiverem vivos no fim da idade obscura despertarão e adquirirão uma transparência cristalina. Os homens assim transformados sob a influência desta época especial constituirão quase uma semente de seres humanos e darão o nascimento a uma raça que seguirá as leis da idade primordial (satya yuga)".

Daí, voltando à perspectiva materialista da discussão, questiono se todo esse discurso de sustentabilidade, responsabilidade social, e etc de que corporações e governos se apropriaram, é legítimo e se realmente pode instaurar uma mudança e contribuir para um mundo novo.

É bom acreditar que sim. Mas é melhor acreditar que uma nova era não vai surgir do exterior para o interior de cada um. É necessário que cada um faça sua faxina interna e destrua o que não serve mais, o que não cabe mais e desperte para uma consciência nova (que na verdade é velha, porque é primordial. É a consciência que perdemos). Considero que assumir uma atitude criativa perante cada instância da vida terrena só é possível se a alma for purificada.

Tem uma frase do Erich Fromm que dá uma dica sobre como as condições para o despertar da criatividade provém do íntimo: "Antes de tudo, é indispensável estar perplexo." É preciso estar pasmo ante à realidade para olhar o que todo mundo vê e enxergar além do que enxergam.

No entanto, perplexidade somente não é o bastante. Se os grandes artistas fossem preguiçosos o suficiente para deixar que suas obras durassem apenas o momento da inspiração, os museus estariam cheios de telas em branco e eu não poderia recorrer a esta imagem para terminar o post querendo dizer que criatividade é só um comichão que sussurra ou grita no ouvido da gente "vai trabalhar"!

domingo, 27 de julho de 2008

Into the wild, man


Bom... não é bem mais uma novidade do cinema, mas como não compactuo com essa cultura do imediatamente descartável, gostaria de registrar aqui minhas impressões sobre a biografia aterradora desse cara que, muito antes do Tyler Durden, rompeu com todos os vícios da sociedade de consumo e rumou para o Alasca sem grana, sem carro e sem nada além de um obsessivo anseio por reencontrar a si mesmo na natureza selvagem.

Christopher McCandless, prole da típica família-anúncio do american way of life, acabara de terminar a faculdade (o que enchera seus pais de orgulho... de si mesmos?!) e justo quando estava pronto para participar da dinâmica materialista do jogo social... (pausa de suspense)... ele virou as costas, desfez-se de suas economias, picotou cartões de crédito, abandonou seu carro e munido de livros sobre a flora local e clássicos de Tolstoi, Thoreau e Jack London; perambulou pelo território americano (até chegar ao Alasca) colecionando ensinamentos e encontros com pessoas cujas vidas transformaram-se irreversivelmente depois de verem-se refletidas na trajetória obstinada do supertramp.

Não vou estragar a surpresa de quem ainda não assistiu (e se você faz parte deles, leia só mais esse parágrafo), mas negar o materialismo da sociedade em que viveu e aceitar que a verdadeira essência do ser reside na natureza, e não em toda parafernália que criamos para evitar o confronto com nosso self original selvagem foi um ato de extrema coragem e desapego para um cara de 22 anos que tinha tudo pra ser mais um boyzinho dos anos 90.

Se você já assistiu não vai se surpreender com o fato de que ele morre no final... completamente solitário e fragilizado pelas vivências extremas que sofreu na tundra. É um final tocante e imagino que conseguiu arrancar lágrimas até do mais frio coração... Espero que sim, porque chorar no fim é um ritual ancestral que deixa registrado na alma de cada um a sabedoria de descobrir que a felicidade só faz sentido quando é compartilhada. E que compartilhar é um gesto de empatia, consideração e amor.

Acredito que se reintegrar à sociedade, tal qual ela se configura, seria impossivelmente frustrante (na falta de uma expressão mais contundente) para McCandless. Não há outro final para ele, senão morrer.

Não há caminho de volta quando se depara com o limiar da Verdade.

sábado, 26 de julho de 2008

Simples


Antídoto para tempos de kalyug: tornar a vida simples, e com trilha sonora!

Segundo Sudha Gupta, diretora geral da Brahma Kumaris no território da antiga União Soviética, existem pelo menos seis aspectos que complicam nossas vidas e todos eles tem a ver com os relacionamentos humanos, familiares, comunitários ou internacionais

Ela diz que cada ser humano encontra-se isolado e que, por isso, enfrentamos graves problemas de comunicação que tornam nossas vidas infelizes e frustrantes. Além de nos comunicarmos pessimamente, o que significa que raramente damos um passo na direção do outro e que ao privilegiar as qualidades negativas de uma pessoa no acervo de nossa memória (ou ao fofocarmos sobre elas para terceiros) acabamos por potencializá-las; também desgastamos muita energia nos prendendo a situações que já aconteceram e desejando posses materiais.

Ou seja, além de sermos ilhas humanas ficamos nos iludindo ou com o passado ou com o futuro. Nunca estamos presentes e talvez, por isso, não conseguimos enxergar porque nossas vidas tornaram-se tão complicadas. Então é só lembrar: "Quanto mais simplicidade, melhor o nascer do dia".

sexta-feira, 25 de julho de 2008

A little better

(foto via notcot)

Ok, muitos acreditam que o design não pode salvar o planeta! E realmente, não pode. Pelo menos não sozinho. Mas, parafraseando outra vez o fundador da Adbusters, Kalle Lasn, "designers vivem no córtex direito do cérebro. E isso os presenteia com um poder especial. Se eles aprendessem a usar esse poder de modo diferente, então, poderiam contribuir para a construção desse futuro que, desesperadamente, precisamos".

Acho que esse posto de gasolina mostra um pouco como usar esse poder de modo diferente. Eu ouvi falar dele na 22ª Semana Internacional de Criação Publicitária durante a palestra do Brian Collins, o baixinho genial da Collins Design Research, autor deste e de muitos outros projetos bacanas. E já adianto, ouvir esse cara vale mil vezes mais a pena do que ouvir o standup comedy de criativos festejadinhos como o Nizan, por exemplo...

Enfim, Helios House é um posto de gasolina high tech no coração de Los Angeles que combina sustentabilidade, design, educação ambiental e experiência num só pacote. O que ele tem que outros postos não têm?! Claro que esse visu não é uma fantasia de nave espacial vestida na estrutura do posto... são placas solares que geram energia suficiente para as necessidades do empreendimento. O material usado na construção é eco-friendly e cada espaço é demonstrativo de tecnologias verdes e oferecem dicas para os clientes adotarem hábitos ecologicamente corretos. Outra coisa legal: a Collins desenvolveu uns postais promocionais impressos num papel que pode ser amassado e plantado, porque há sementes prensadas nele.

Em cima do posto há outdoors dizendo "a little better"... E acho que só não é mais do que "um pouco melhor" porque afinal de contas eles estão vendendo gasolina!!!

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Rice and beans...

Através do site do movimento Slow Food brasileiro (uma associação contra os efeitos padronizantes do fast food, o ritmo frenético da vida atual, o extermínio de tradições culinárias regionais e assuntos afins), encontrei um Manifesto sobre o Futuro da Alimentação.

Este documento foi apresentado na 4ª edição do Forum Social Mundial em Mumbai, na India pelo Comitê Internacional para o Futuro da Alimentação e da Agricultura e apresenta o real contexto em que a cultura agrícola de hoje em dia está inserida, leia-se, atrelada aos interesses de grandes corporações e funcionando segundo o compasso da linha de produção fordiana.

O paper expõe todas as mazelas e perigos deste sistema, mas também fornece alternativas e soluções. Na verdade, diz que muitas destas soluções já foram postas em prática em alguns lugares. Só que, como ecossistema humano que somos, interligados uns aos outros, atitudes isoladas são contribuições de pouco vulto para mudanças significativas na realidade do planeta.

Observamos os preços dos alimentos em contínua escalada e acabamos por achar que não há alimento suficiente para todos. Na verdade, o que parece haver por trás disso é uma especulação comercial, uma vez que os grandes do segmento alimentício têm carta branca para se apossarem de sementes, alimentos e terras produtivas ferindo direitos tradicionais de produtores locais e impedindo que famílias e comunidades dediquem-se à formas sustentáveis de sobrevivência, como sempre fizeram (e depois querem nos fazer acreditar que sustentabilidade é um conceito novo e fresquinho do século XXI).

Leiam o manifesto... e entendam porque urge que compremos produtos locais, produtos da época, alimentos fornecidos por pequenos produtores e todo esse papo que corre na mídia anti mainstream, como as revistas Vida Simples ou a dos Vegetarianos.

quarta-feira, 23 de julho de 2008

O extraordinário é demais



"Não faça nada a não ser que seja necessário e útil.
Porém, se for algo necessário e útil não hesite em fazer com que seja belo."


Pra quebrar um pouco essa lógica da racionalização da produção dos bens de consumo que postei até agora e relembrar o Balu (aquele urso fanfarrão do desenho do Mowgli), reproduzo aqui essa máxima da filosofia do design shaker. Os shakers são protestantes, que assim como os quakers, acreditam que Deus pode ser encontrado muito mais dentro de nós mesmos do que em cultos ou rituais.

Segundo a Wikipedia, eles também acreditam que suas vidas devem ser dedicadas à busca pela perfeição e que uma das formas de alcançá-la é trabalhando duro. Isso fez com que se tornassem hábeis construtores que contribuíram largamente para a história cultural dos Estados Unidos.

São autores de um design de mobiliário único. Minimalista e sóbrio. Sem detalhes elaborados ou decorações exageradas, uma vez que isso seria desrespeitar sua própria filosofia e; porque para eles o trabalho é um ato de oração deviam fazê-lo, sobretudo, com beleza.

Eu não sou shaker, mas considero isso um ato de profundo respeito pelos recursos naturais que o planeta oferece para que possamos criar o necessário "somente o necessário" pra viver aqui..."por isso é que essa vida eu vivo em paz!"

Surplus = excesso


"Se na América latina o gozo dos bens terrenos está reservado a poucos, é preciso que a maioria se resigne a consumir fantasias. Vendem-se ilusões de riqueza aos pobres e de liberdade aos oprimidos, sonhos de triunfo aos vencidos e de poder aos fracos."
Eduardo Galeano

Surplus - Terrorized into being consumers é um documentário sueco de 2003 que apresenta uma crítica contundente à cultura de consumo e ao largo apelo ao consumo no pós onze de setembro. Apelo do próprio presidente Bush, como você deve ter visto ou verá no filme Story of Stuff, que eu indiquei no post anterior.

É um tanto quanto desesperador constatar que as premissas fundamentais da sociedade em que vivemos são ilusões. E que somos atirados num moinho que gira rápido, rápido, cada vez mais rápido só para que não percebamos que estamos vivendo uma ilusão em seguida da outra...

Eu bem sei que vivemos num país (dito) em desenvolvimento. Cheio de mazelas sociais e econômicas. Sei que não consumimos na escala do povo estadunidense... Mas, não estamos consumindo seu lifestyle?!

É interessante a discussão do filme a respeito dos males da globalização, que extermina diferenças culturais porque não é nem um pouco democrática e de como por trás de políticas sociais, o governo atende muito mais aos interesses do corporativismo do que aos da população.

aqui o link da primeira parte do documentário, infelizmente não tem legenda em português!

A história das nossas coisas



Além de se preocupar com as questões filosóficas fundamentais, como "de onde viemos" ou "o que estamos fazendo aqui", você já parou pra pensar de onde vem as coisas que a gente compra prontinho nas lojas e pra onde elas vão depois que as jogamos no lixo?!

Annie Leonard, uma mulher que não se preocupa apenas com roupas e sapatos, mas com o impacto que o consumo desses itens provoca no planeta e nas sociedades, percorreu muitos caminhos e descobriu um monte de coisas interessantes que todos devem saber antes de ir correndo pro shopping quando a TV anuncia a próxima liquidação.

The story of stuff, é um documentário deliciosamente didático que explica cada etapa do processo que impulsiona o consumo a níveis cada vez mais desenfreados e que está enchendo nosso planeta de lixo. Há que se dizer que Annie apresenta tudo com uma certa ironiazinha muito sutil mas que acaba por acordar nossa mentalidade condicionada a essa lógica insana do consumismo como objetivo fundamental de felicidade e júbilo.

Aqui você assiste a versão com legendas em português. E aqui, você assiste a versão interativa (sem legendas) no site da própria Annie Leonard.