quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Half Nelson



Half Nelson é um daqueles filmes que quando acaba, você fica se perguntando o que foi que acabou de ver... Tem toda a historia da estética construída pela cenografia e movimentos de câmera, que ampliam a sensação de solidão e desnorteamento do personagem de Ryan Gosling – Daniel Dunn – professor de história de um colégio num bairro negro meio barra pesada.

Os desavisados podem achar que trata-se de um destes filmes onde o professor maravilhoso redime toda a turma com sua sabedoria magnânima e é redimido pelo amor dos alunos. Mas não. Não há espaço para clichês nesta fita que nem sequer foi lançada no Brasil (dá até pra entender que o público aqui seria bem escasso, e by the way quem quiser assistir está em cartaz no canal film & arts).
O enredo não constrói heróis nem vilões e torna-se marcante justamente por não lançar mão de nenhum julgamento fácil. Fiquei com o verso  do Pink Floyd na cabeça: Us and them, and after all we’re only ordinary men...

É um retrato delicado e contundente de uma amizade estranha entre um professor branco, viciado em crack, cuja única motivação é fomentar a análise crítica em seus alunos e uma garota negra de 13 anos filha de um pai que não se interessa por ela, de uma mãe que não tem tempo pra ela e irmã de um garoto que está preso por tráfico de drogas. Ela tenta encontrar os critérios para as escolhas que tem de fazer sozinha. Ele, o professor, sente-se tão tragicamente sozinho e perdido que escolhe viver entorpecido para não ter que sentir mais nada.

Drey, a garota negra que esconde sua timidez debaixo de bonés rappers, encontra em Dunn a referência masculina que não tem em casa. Mas a relação dos dois não é facil de construir...esbarra a toda hora nas lacunas e vazios dos dois. É uma afinidade silenciosa que os aproxima. É intuitiva porque constitui-se de verdades que ambos sonegam e que mais os fazem isolar-se do que integrar-se.

Bom, acho que valeu a pena assistir (era a única alternativa decente em comparação com todos os canais da HBO) e tem cenas e frases ótimas. Eu achei especialmente simbólica uma das aulas de Dunn, quando ele tenta explicar a idéia de opostos complementares do oriente que não é compreendida no ocidente (de novo vou citar o Pink Floyd: Up and down, and in the end it’s only round and round and round)... como uma árvore pode ser torta e ainda ser reta, como algo pode ser fraco e forte ao mesmo tempo. É simbólico pois dentro de cada um de nós podemos encontrar o que quisermos: força ou fraqueza, e então viver de acordo com o conceito que escolhermos, mesmo que a escolha seja inconsciente. Talvez nosso trabalho seja o de tornar cada escolha mais consciente e no final do filme é mesmo o que parece que Dunn e Drey estão aprendendo.

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