domingo, 27 de dezembro de 2009

Esperança, do verbo Esperançar!


Quando o filósofo Mario Sérgio Cortella fala, não há muito mais o que se acrescentar! Então transcrevo abaixo, na íntegra, o texto "A resignação como cumplicidade" que é tão incisivo em tentar despertar nosso sentimento de responsabilidade.

O escritor suíço Denis de Rougemont, um arguto defensor da unidade européia e, especialmente, um estudioso da ocidentalidade, disse algo (em meados do século passado) que inspirou discursos conhecidos de muitos políticos: "A decadência de uma sociedade começa quando o homem pergunta a si próprio: ‘O que irá acontecer?’, em vez de inquirir: ‘O que posso fazer?’".

A decadência (seja ela na sociedade mais ampla, seja em quaisquer instâncias, como família, trabalho, política etc.) principia quando o imperativo ético da ação é substituído pela acomodação e pela espera desalentada, isto é, quando se abre mão do dever que emana da liberdade e exige, para ser exatamente livre, uma intervenção consciente. Isso é lembrado em razão de um sorrateiro entorpecimento que acomete a muitos, aniquilando pouco a pouco a capacidade de reagir e de apontar como fora de lugar muitas coisas que parecem encaixar-se, sem arestas, na vida cotidiana e que precisam ser fortemente rejeitadas, de modo que esta não dê lugar ao abatimento que apenas aguarda, em vez de buscar provocar resultados.

Estamos nos acostumando —com rapidez e sem resistência ativa— com alguns desvios que parecem fatais e inexoravelmente presentes, como se fizessem "parte da vida": violência, desemprego, fome, corrupção e outros. É a prostração como hábito! E o conveniente pesar estampado no rosto e nas palavras para disfarçar uma simulada impotência individual mas que, no fundo, é expressão de um egonarcisismo indiretamente conivente. Tão confortável assim pensar... Lembre-se, então, de Fernando Pessoa, para o qual "na véspera de não partir nunca, ao menos não há que arrumar malas".

Pode-se argumentar que, felizmente ainda há muita esperança. Mas, como insistia o inesquecível Paulo Freire, não se pode confundir esperança do verbo esperançar com esperança do verbo esperar. Aliás, uma das coisas mais perniciosas que temos neste momento é o apodrecimento da esperança; em várias situações, as pessoas acham que não há mais jeito, que não há alternativa, que a vida é assim mesmo... Violência? O que posso fazer? Espero que termine... Desemprego? O que posso fazer? Espero que resolvam... Fome? O que posso fazer? Espero que impeçam... Corrupção? O que posso fazer? Espero que liquidem... Isso não é esperança, é espera. Esperançar é se levantar, esperançar é ir atrás, esperançar é construir, esperançar é não desistir! Esperançar é levar adiante, esperançar é juntar-se com outros para fazer de outro modo. E, se há algo que Paulo Freire fez o tempo todo, foi incendiar a nossa urgência de esperanças.


Seria possível também usar aqui palavras como desalento, desânimo ou até covardia tolerante. Júlio Cortázar, o argentino que deu novos contornos à prosa latino-americana dos anos 60 em diante, afirmava que "a covardia tende a projetar nos outros a responsabilidade que não se aceita". Ou, pensado de outra forma, visite-se o romancista francês Jules Renard, com sua obra permeada por ironias cruéis (uma delas, aqui representada em 1957 por Cacilda Becker com o nome de "Pega-Fogo"): "Dando ouvidos apenas à sua coragem que nada lhe dizia, ele absteve-se de intervir".

Por isso resignar-se é, de forma contundente, concordar involuntariamente ou até ser cúmplice passivo. Melhor ficar com o vaticínio de André Destouches, compositor e diretor artístico da Ópera de Paris no reinado de Luís 15; o músico, especializado em tragédias líricas (como as que muitos pensam estar vivendo), advertia que "os ausentes nunca têm razão".


Encontrei esse texto bem aqui. Faz parte do livro de provocações filosóficas "Não Nascemos Prontos". E em uma comunidade do orkut também achei essa citação "...Nossa tarefa no mundo é Mandelar, MadreTerezadeCalcutear, ZumbidosPalmeirear, ChicoXavierar, ou seja, transformar em verbo os grandes homens e mulheres que lutaram contra qualquer forma de discriminação" Eu até diria os homens e mulheres que fizeram de suas vidas uma obra de amor, ou de justiça, ou de liberdade... Ao invés de esperar por heróis devemos fazer o que pudermos, devemos fazer a nossa parte! Nada mais.

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

This little light of mine


Gayatri Mantra: OM BHUR BHUVAH SVAH OM TAT SAVITUR VARENYAM BHARGO DEVASYA DHEEMAH DHIYO YO NAHA PRACHODAYAT

A campanha de Natal do Boticário traz uma musiquinha que apesar de aparentemente superficial é na verdade tão profunda! Resume-se a dizer "Essa luzinha do meu ser, vou deixar ela brilhar". E o que se passou em mim quando eu ouvi foi mais ou menos isso: essa luzinha é a centelha divina da qual somos portadores. É nossa consciência. A consciência que viemos buscar. Deixar ela brilhar é libertá-la. Acender nossa consciência, trazê-la à Luz, nos protege e liberta. Por isso gostei tanto da energia boa que sai da TV quando passa o filme do Boticário, que com certeza não me convenceu a comprar perfumes e maquiagem mas me fez pensar em coisas tão mais profundas.

Daí uma cliente querida me mostrou um mantra, que também me comoveu muito. É um dos mantras mais poderosos segundo a tradição hindu porque contém a sabedoria de todos os Vedas, os livros sagrados hindus, o que significa que nos mostra a essência de toda nossa existência. O nome do mantra é Gayatri, que significa algo como fazer florescer a energia vital que nos protege ou que nos liberta... A letra de 24 sílabas foi traduzida assim em um site que pesquisei:

"Eu Saúdo aquele Ser, possuidor da efulgência divina e que é a causa e sustentação de todos os planos da existência.Que minha mente esteja sempre fixa e absorvida Nele e que Ele possa iluminar, purificar e inspirar meu intelecto."

É lógico que eu substituo intelecto por intuição ou espírito, afinal como confiar em traduções internéticas do sânscrito? E aí ele fica muito parecido com o simpático refrão chiclete de "This little light of mine, i'm gonna let it shine"...

Por fim, li hoje na dissertação Natal, do terceiro volume de Na Luz da Verdade de Abdruschin a seguinte frase:

"Transformai tudo o que pensais e fazeis num servir a Deus! Então vos sobrevirá aquela paz pela qual ansiais. E quando os seres humanos vos afligirem pesadamente, seja por inveja, maldade ou baixos costumes, tereis a paz dentro de vós para sempre e ela ajudar-vos-á, finalmente, a vencer todas as dificuldades!"

E eis que encontro a melhor forma de saber como deixar a minha luzinha interior brilhante e minha intuição inspirada! E porque Natal é Nascimento, faz sentido iluminar o espírito, prestar atenção a ele e permitir que nasça ou renasça... É o que quero levar para o ano seguinte e o que desejo que todos levem também!

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

As princesas hoje em dia



Ontem levei filha e sobrinhas para ver a Princesa e o Sapo no cinema! Fora o contexto Barack Obama em que o filme foi lançado... sim, porque pela primeira vez na história a Disney tem uma princesa negra, afro-americana natural da efervescente Nova Orleans dos anos 20! Bom, fora o contexto Barack Obama, eu gostei muito dessa nova forma de contos-de-fadas que vi ontem...

É lógico que Tiana (a princesa do título) não é uma princesa, é uma garota pobre e trabalhadora que sonha abrir o próprio restaurante. Aliás, sonho que herda do pai e pelo qual abre mão das diversões próprias da juventude para se dividir em jornadas duplas de trabalho a fim de juntar todo o dinheiro de que precisa. Só estou salientando esse ponto, porque para quem ainda não percebeu, desde os contos de Andersen e dos irmãos Grimm, o casamento com um príncipe, objetivo final da maioria dos contos de fadas, era a principal forma de ascensão social para a mulher. Uma ascensão que a libertava de serviços e maus tratos domésticos...

A principal novidade que este conto revisitado traz, a meu ver, é o fato de que Tiana não quer se ver livre do trabalho. Pelo contrário, ela acredita que é preciso batalhar muito para chegar lá! Também não acredita que beijar um sapo, na esperança de que vire príncipe seja a solução de seus problemas, ao contrário, dessa vez quem está em busca de um casamento vantajoso para si é o príncipe! O moleque irresponsável e fanfarrão que torra a fortuna da família em farras de jazz pela cidade até que os pais lhe cortam a mesada e desencadeiam o cenário perfeito para que charlatões, como o Homem da Sombra, se aproximem e dêem o bote!

Tá, estou estragando a surpresa de quem ainda não assistiu, mas se quer saber minha opinião sobre o filme pare de ler agora, vá até o cinema mais próximo e depois continue a leitura... Porque não posso evitar continuar falando sobre todas as inovações culturais que esse filminho trouxe. Enfim, é este príncipe folgado e desesperado, agora sem a mesada dos pais, que se deixa ser transformado em sapo... E que convence Tiana a beijá-lo, porque assim pode retomar sua forma e poderá ajudá-la com o sonho do restaurante. O fato é que depois do beijo, é a princesa que vira sapo! E os dois são lançados numa aventura maluca nos pântanos da Louisiana. Conhecem personagens tão simples e singelos que os ajudam em sua jornada. Eu fiquei especialmente comovida com o vagalume Raymond que é apaixonado por uma estrela a quem chama Evangeline e que em sua simplória caipirice dá grandes lições filosóficas, tanto para crianças de 3 anos como para as de 30 aqui!

O clímax: é lógico que a princesa e o sapo se apaixonam em alguma hora do filme. Mas não termina como nos contos de fadas tradicionais em que a princesa segue com seu principe para o mundo dele, no cavalo branco dele! Aqui, Tiana traz o principe para o seu sonho e ele sente-se encorajado a trabalhar e ajuda-la a construir o restaurante. É o trabalho em comum que finalmente os une, e é a primeira vez que vejo a mulher representada como guia que conduz a vontade masculina, enobrecendo-a; e não como um troféu, ou objeto que satisfaça a cobiça dos homens! Eu gostei!!!

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

A irradiação do amor

All you need is love! Love, love, love... Incontáveis os que já escreveram sobre o tema e fácil dizer que todos, indistintamente, precisam dele... Por que estou falando disso hoje? Não é porque estou apaixonada, certamente... Mas porque vem chegando essa época do ano, em que se pode sentir o que é o amor, não o sentimento melosinho de posse alheia, mas o amor universal que movimenta e mantém o universo inteiro.

Falar em posse alheia, comecei a observar que há aqueles que acreditam no amor e não sabem o que ele é. Por exemplo, dia desses na Rodoviaria do Tietê, uma mulher de origem bem simples ia andando abarrotada de malas e sacolas e uma pequenina caixinha que miava estridentemente pelos corredores. Eram 4 gatinhos espremidos dentro de uma caixinha minuscula de pardais... Se fossem pardais ja seria lastimável, imagine gatinhos...

Talvez se perguntasse, aquela senhora ia dizer que amava os bichinhos, por isso os levava consigo... Mas em sua ignorancia, ela que nunca observou o movimento do universo e da vida, não pode ser levada a sério, pois confunde amor com posse. Quem pode julga-la? É um pouco o que fala o profundo Dr. Bach em sua terapia floral. Querer ser dono, possuidor da vida alheia só pode trazer doença! Se nos sentimos compelidos a possuir alguém, a dominá-lo com nossa personalidade é porque, muito provavelmente, não sabemos ser livres com relação a nós mesmos. Isso tem a ver com desapego e com a consciência de que amar é servir ao próximo, sendo-lhe útil. Não falo de submissão e nem de ser falsamente humilde. Servir denota a idéia de fazer o outro feliz, agradar ao outro, mas também e,não raras vezes, somos úteis quando temos coragem de ser sinceros e saber dizer a verdade mesmo que doa. Quando temos coragem de viver a verdade, mesmo que doa.

Nesta época do ano em que a maioria está ocupada fazendo compras de natal, planejando viagens, jantares e comemorações, eu queria ficar bem quieta, olhando o estrelar do céu. Sentindo o que sutilmente ocorre sem que quase ninguem note: uma poderosa renovação de forças que é capaz de transformar quem deseja ser realmente trasformado.

Acho que foi nessa época do ano que Rilke escreveu essa frase tão poderosa que esse carinha que segue o blog postou em seu perfil de membro. Para quem nunca notou, a frase é assim: "Não há força no mundo exceto o amor, e, quando o carregamos em nós, simplesmente o temos, mesmo que fiquemos perplexos sobre como usá-lo: ele exerce seu efeito, irradia e ajuda para fora e além de nós. Não se deve jamais perder essa fé, é preciso simplesmente (e se não fosse nada mais) resistir nela!" Obrigada fjmjr por ter me apresentado tão nobre reflexão! E que todos possamos encontrar amor assim para soltar os gatinhos que carregamos em caixinhas de pardais.