sexta-feira, 8 de julho de 2011

O novo



Bom... o que alimenta esse blog (e nunca é demais lembrar) são os feitos de quem está lutando pela transformação deste mundo! E eu não poderia deixar de registrar aqui o que aconteceu em São Paulo ontem... Marina Silva, no Encontro por uma Nova Politica, anunciou sua desfiliação do Partido Verde... mas mais do que isso, ela lançou a pedra fundamental de uma postura, que garanto, é o anseio de muitos brasileiros!

A partir de ontem, uma nova política ganhou corpo no país! Não é mais aquela política de autopromoção e vitrine pessoal. Essa nova política que Marina propõe é a consciência de cada cidadão fazendo-o agarrar seu destino com as próprias mãos.

Como não se emocionar quando se 0ouve essa mulher franzina e de feições firmes dizer assim:

"Qual é nosso foco principal? Eu diria que é sensibilizar brasileiros e brasileiras para sairem de seus papéis de meros espectadores para serem uma força transformadora."

Culturalmente, este país tende a achar que a solução de tudo está nos políticos...mesmo nunca tendo aprendido a de fato, escolher os seus representantes ou cobrá-los ou acompanhar o que estão fazendo...

Marina, nos incita a abandonar esse comportamento e agir com mais autonomia em todos os âmbitos de nossa vida.

Aí contraponho o pouco que ouvi  e me contaram sobre este encontro histórico de ontem (ainda vou ter tempo de me aprofundar mais nisso) com a fala do Mario Sergio Cortella - que diz  'Os ausentes nunca têm razão!' ... e contraponho com o que André Trigueiro diz 'Consumir é um ato político' e de novo com o Cortella 'A finalidade do poder é servir. Todo poder que serve a si mesmo, não serve!' ... enfim... não há como não ver que política é um exercício e uma responsabilidade diária que envolve desde o que consumimos até o poder que concedemos ou alienamos! É um dever intrínseco e fundamental de cada indivíduo e que não dá pra terceirizar!

Marina ontem lançou uma nova política, uma política de esperançarÉ preciso estar alerta, consciente e em ação!



sexta-feira, 1 de julho de 2011

Safran Foer no Embu

foto montagem

Por alguma dessas sincronicidades da vida, descobri (mas foi lançado em 2010) que o Jonathan Safran Foer escreveu um livro sobre a escolha entre ser carnívoro ou vegetariano. O autor, festejado pelo seu romance inicial - Everything is iluminated - desta vez não escreveu uma ficção. Li o primeiro capítulo de 'Comer animais' e fiquei surpreendida com o estilo do autor ao tratar o assunto! Este tipo de tema transforma-se com tanta facilidade num dogma que faz com que as pessoas logo se posicionem e ressintam-se ou abandonem o assunto. Mas Foer trata a questão com uma carga tão honesta e pessoal, expondo suas próprias idiossincrasias de forma tão transparente, que consegue transformar a obra numa pesquisa pra lá de cativante!

Anyway, este post não é sobre vegetarianismo, veganismo, nem literatura! A sincronicidade que mencionei deve-se ao fato de que logo depois e sem conexão aparente, comecei a me envolver numa causa que tem me deixado indignada, preocupada, apavorada e pensativa. Embu das Artes é um desses lugares mágicos que a gente guarda com carinho junto com as mais doces memórias da infância, mas como numa distopia perversa tem de assistir que seja ameaçado de forma vil pelos interesses excusos do capitalismo. Ok! Essa frase ficou meio romântica demais. Mas de tanto o capitalismo querer adequar o meio ambiente aos seus interesses, daqui a pouco não tem mais nada... nem capitalismo. Se é que isso comove algum capitalista.

Bom... não quero ser panfletária! Quero me inspirar no Foer... que, depois do nascimento do filho, decidiu pesquisar por si mesmo de onde vem a carne que come e ficou horrorizado com a crueldade desta indústria. Acho que é consensual que ficamos horrorizados quando começamos a nos aprofundar nestas questões. Hoje ninguém se aprofunda muito em nada, então ninguem fica horrorizado e, sem horror nada pode ser modificado (infelizmente este horror é necessário quando a sociedade encontra-se tão embotada e apática como estamos)

São causas demais e tão pouco tempo! Não coma carne, não use pele de animais, coma comida orgânica, diga não às queimadas da amazônia, proteja as tartarugas, salve as baleias... as nobres e as nem tão nobres: plante sua fazenda sem sair do computador, administre um café sem sair do computador, assista as goleadas do último campeonato, compre bolsas, sapatos e um carro novo (sem sair do computador)... Estou sendo panfletária de novo, né?!

Só que a base de todas as nossas ilusões consumistas: nosso chão, ar e água estão no limite e sem eles nem nossas mais delirantes alucinações persistiriam... A causa verdadeiramente nobre mais próxima a mim no momento é a luta pela Area de Preservação Ambiental Embu Verde. Uma região preservada que abriga aves, animais e plantas raras. Riquezas naturais sem preço que podem desaparecer pra dar lugar a mais indústrias... E eu me pergunto (e por que não ninguém mais?): será que precisamos de mais indústrias (ou pelo menos que sejam construídas em áreas preservadas)? Será que vamos continuar a construir um mundo horroroso em cima do mundo que precisamos pra viver? Eu espero que não.

Espero que sejamos capazes de olhar o mundo e ver o que realmente interessa. Espero que sejamos capazes de nos aprofundar, horrorizar e lutar. Será que só por hoje eu sou capaz de parar qualquer coisa inútil que eu esteja fazendo pra unir minhas forças às de quem tem uma causa nobre?! ... Fazer dela minha causa também?! E você? É capaz?!

Este blog não tem a audiência necessária pra transformar o assunto numa manchete nacional! É uma gota de um riacho que oxalá, transforme-se num oceano. Se quiser saber mais e se engajar, acesse:

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Vitamina E de Entusiasmo


Eu lembro da Vivi Pontes da minha época de faculdade em Ouro Preto...Se bem me recordo, ela tinha um estilo meio clubber, cabelo azul (?) e fazia duas faculdades... A reencontrei um tempinho depois de minha filha nascer, na mesma Ouro Preto em casa de amigos em comum... trocamos poucas palavras. Mas me surpreendi mesmo com ela (como se ela já não fosse suficientemente surpreendente!) quando comecei a acompanhar seu blog de decoração, ou melhor, decoeuração;  que muito rápido e  com toda razão, virou referência no meio! (Quem não conhece vale a pena uma visita, eu gosto especialmente do texto gostoso e familiar dela, de quando cita o Guimarães Rosa e de quando alardeia soluções handmade que não tem a mínima cara de trabalhinho de colégio!)... Enfim, hoje eis que me surpreendo de novo com ela!

Ela  postou no twitter um video muito inspirador de um autor que admiro demais: o uruguaio Eduardo Galeano. Para mim ele é um crítico-social-poeta que insufla nos corações de quem o lê, a saudade de um mundo menos desigual, mais justo e harmônico. O link veio do Blog do Tas e repito aqui a advertência que ele fez: Sugiro: ouça com o coração tranquilo, sem se obrigar a buscar quem “tem razão”. Afinal, segundo Galeano, citando Goya: “a razão gera monstros”. Não os alimente. Apenas sinta o drama e a delícia de estar vivo na Praça Catalunia, onde jovens espanhóis acampados desde Maio provocam outros jovens do mundo inteiro a repensar o nosso papel na política, nas artes e na vida. 

Muita vitamina E pra todo mundo que quer ver nascer esse mundo novo!

terça-feira, 5 de abril de 2011

Fora de casa


Da abertura meio absurda ao desfecho comovente e terno, Bagdad Café me surpreendeu um tanto dia desses! Porque não, eu ainda não tinha visto esse filme alemão da década de 80 que, como lupa, expõe e amplia o que a gente vai escondendo embaixo do tapete das frustrações. Imagine ter coragem de jogar tudo pro alto e se deparar com uma realidade tão desolada quanto sua própria dor e ainda conseguir fazer florescer ali um pouco de esperança e beleza... Utópico? Até que não...

Jasmine, ou frau Münchgstettner, a alemã em férias no meio oeste americano, decide abandonar o casamento com um homem grosseiro e rude ali mesmo no deserto do Mojave, ou no meio do nada, chame como quiser. Esta é a cena 'ionescamente' absurda do começo da película. Aparentemente sisuda em seu tailleur e chapeuzinho tipicamente alemão ela vai parar no Bagdad Café, comandado por Brenda; uma negra durona. embrutecida pela vida de mãe solteira do deserto que ainda cria um neto e não consegue ter um relacionamento amoroso que compense e a valorize! Aliás, coincidentemente ela também acabara de mandar seu 'homem' pastar quando surge Jasmine.

A desconfiança de Brenda para com essa figura maciça e exótica chega a ser cômica. Por que Jasmine quer ficar ali no meio do nada?! Não quer que lhe chamem um taxi?! Não sabe quando volta pra Alemanha?! E mais adiante, por que tem roupas esquisitas de homem em sua mala?! (O fato é que Jasmine havia trocado a mala com o recente ex-marido por engano)... Mas Brenda demora pra aceitar a estrangeira, ou leia-se, demora a aceitar as mudanças que vêm junto?

Jasmine, por sua vez vai conquistando a todos, muito natural e espontaneamente. Improvisa com as roupas enganadas do marido e de repente, do mesmo jeito que transforma aquelas roupas em um estilo muito particular para si, vai transformando sua dor em um pouco de contentamento, o tédio dos locais em diversão, o arrelio do filho de Brenda em talento reconhecido, a escassez do lugar em aconchego... e finalmente a brutalidade de Brenda em amizade e doçura.

Sim, tudo isso já se percebe desde o inicio da história mas não há como não se surpreender com as pequenas e grandes mágicas transformadoras que Jasmine executa na pequena Bagdad... O segredo?! Pelo menos pra mim parece ser este: ela chega ali desolada e ao invés de olhar para si, olha em volta e se doa! Ao se entregar assim, àqueles desconhecidos todos, redime seu sofrimento e encontra  paz e reecontra até o amor! É sim uma história de 'o mundo é como nós somos' e eu sempre me emociono quando reconheço este eco! Falar em 'eco', a canção tema do filme é emoção extra: Contraste total com a insipidez do deserto a melodia retumba nos vazios dentro da gente e quase expurga nossa própria dor ali junto com as dores daquelas mulheres. Talvez seu tom hipnótico nos mostre que só vale a pena mergulhar nas feridas se for pra transformá-las em beleza.

Se você acredita que, em muitos casos, a felicidade está bem fora da zona de conforto e que para alcança-la temos que sair da bolha e ainda, que força interior é chuva no deserto, esta história tem boas chances de se tornar, assim de cara, seu mais novo filme querido!

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Ainda, os pássaros

Meio que o filme do qual falei no post anterior continua a me fazer pensar... Não só o filme como várias das coisas que vivencio nestes dias. Para mim é bem claro entender que existe uma energia que nos envolve a todos, e que precisa circular e se movimentar para manter-se ativa e benéfica. Daí que é tão importante o conceito de troca! O "dar e receber" que vimos no filme O Visitante e que vemos, a todo momento, em qualquer instância da vida...

Assim, observamos que nossa atuação é capaz de transformar tudo ao nosso redor. O modo como lidamos com essa "energia cósmica" ou qual seja o nome que tenha, é sim capaz de transformar o ambiente que nos circunda e daí que justamente por isso, deveríamos aprender (ASAP) a nos sentirmos plenamente responsáveis por nossa atuação.

Se aprendêssemos desde cedo que a vida se constitui a partir de dinâmicas de troca, muitos males não existiriam! Li de um texto muito bom a seguinte frase:

"Se você quer saber como as energias reagem umas às outras, observe a natureza. O pássaro acorda na manhã sem alimento. Cada dia deve obter a sua própria subsistência. A cada dia ele deve sair e encontrar o alimento para si e seus filhotes.
E o que o pássaro faz quando desperta?
Preocupa-se? Não, simplesmente canta e age!"

Nós, seres humanos, pelo contrário aprendemos a guardar, a estocar, a criar uma zona de conforto que nos impede de ser como o pássaro. Nossa obsessão por controle nos embota ao ponto de deixarmos de enxergar com clareza a dinâmica simples que há entre nós e a energia vital. Assim começamos a fazer com que a energia fique estagnada, por medo. E por estarmos todos interligados, isso é uma reação em cadeia. E  porque o medo se instalou nos corações de todos nós, começamos a nos odiar. Afinal estamos concorrendo agora. Quem consegue acumular mais energia?! 

A singeleza do pássaro não nos pode cativar mais. Estamos ocupados, acumulando. Tentando ser mais poderosos que o vizinho, que o rival. Se nos soltássemos um pouco?! Cairíamos?! Não conseguimos mais confiar que se soltássemos um pouco seríamos salvos. Algo aconteceria... Talvez sejamos capazes de intuir isso, mas ainda não confiamos. Continuamos com medo e portanto, com ódio.

Não sabemos mais da responsabilidade que temos e nos abrigamos nos álibis que habilmente construímos. Sofremos na esperança de redirmir-nos. Mas adivinhe só: o sofrimento, que é álibi, entorpece ainda mais nossa consciência. Sofrimento em excesso embota. Nos paralisa. Seguimos segurando aquele fiapo de energia que conseguimos reter. Cansados, amedrontados e raivosos.

Muitos estamos sofrendo, tentando alcançar um equilíbrio ideal. Mas não fazemos idéia da harmonia que devemos manter em nossas trocas para que este equilíbrio seja atingido... Parece óbvio que assim é quase impossível ficar em paz. Parece patético almejar a liberdade ao mesmo tempo em que cingimos os grilhões das prisões que inventamos. E parece absurdo que ainda não conseguimos vislumbrar uma forma de deixar de nos agrilhoar assim!