Nem sempre é bom revisitar o passado, mas dia desses tive uma grata surpresa quando fui consultar a programação do Sesc e vi que daqui meia hora ia começar o show do Sergio Pererê. Passei a mão na bolsa e na filha e fui correndo pra lá!
Eu tinha assistido esse artista há uns 10 anos atrás quando acabava de entrar na faculdade em Minas Gerais e ficara impressionada com a força das imagens de algumas letras, com o porte orgulhoso do cantor e o poder de sua voz e batuques. O show conseguiu me transportar para uma áfrica muito brasileira que conseguia transformar a dor em ritmo e produzir uma energia tão contagiante que era capaz de fazer qualquer esperança florescer.
Não podia perder a chance de vivenciar novamente essa experiência! Amei do começo ao fim, mas queria compartilhar duas letras-poesia que me tocaram especialmente. Uma que ele fez pra mãe dele, Serafina! A letra é assim:
Quando não vejo a vida no capim
Quando a estrada parece não ter fim
Se o mundo se torna tão ruim
Quando entro e não sei como sair
Quando perco a vontade de seguir
Se me esqueço do quanto é bom sorrir
Ela, Ela acende uma vela
Ela, Ela acende uma vela
pra mim
Quando me aperta o peito e a voz não sai
Quando o vento se cala e a noite cai
Se acredito na ausência de meu pai
Quando me falta sorte ou gratidão
Quando grito, esperneio ou choro em vão
Se acredito que o amor é ilusão
Ela, Ela acende uma vela
Ela, Ela acende uma vela
pra mim
É claro que transporto a idéia para dentro de minhas próprias convicções! Não entendo a letra como desenvolvimento da frase tão repetida: "Reze por mim" ou "Rezarei por você"... Gosto do símbolo da vela, que indica que a mãe faz um desejo de luz para o filho quando ele vê apenas escuridão! E a outra é "Alma Grande", que ele escreveu quando o pai faleceu! Achei tão especial o modo como ele encoraja o pai a seguir em frente e encontrar sua alma. Acho que nunca ouvi nenhuma outra canção cantar sobre a morte com sentimento tão genuíno e sem apego assim, como no trecho: "... Segue sem saudade de onde vem. Vive o ponto onde mira o seu olhar. Desespero e medo não lhe convém. Com seu novo manto caminhará e não caminhará só jamais".
Poesia assim engrandece mesmo a alma da gente!
Poesia assim engrandece mesmo a alma da gente!