terça-feira, 23 de novembro de 2010

Alma grande


Nem sempre é bom revisitar o passado, mas dia desses tive uma grata surpresa quando fui consultar a programação do Sesc e vi que daqui meia hora ia começar o show do Sergio Pererê. Passei a mão na bolsa e na filha e fui correndo pra lá! 

Eu tinha assistido esse artista há uns 10 anos atrás quando acabava de entrar na faculdade em Minas Gerais e ficara impressionada com a força das imagens de algumas letras, com o porte orgulhoso do cantor e o poder de sua voz e batuques. O show conseguiu me transportar para uma áfrica muito brasileira que conseguia transformar a dor em ritmo e produzir uma energia tão contagiante que era capaz de fazer qualquer esperança florescer.

Não podia perder a chance de vivenciar novamente essa experiência! Amei do começo ao fim, mas queria compartilhar duas letras-poesia que me tocaram especialmente. Uma que ele fez pra mãe dele, Serafina! A letra é assim: 

Quando não vejo a vida no capim
Quando a estrada parece não ter fim
Se o mundo se torna tão ruim

Quando entro e não sei como sair
Quando perco a vontade de seguir
Se me esqueço do quanto é bom sorrir

Ela, Ela acende uma vela
Ela, Ela acende uma vela
pra mim

Quando me aperta o peito e a voz não sai
Quando o vento se cala e a noite cai
Se acredito na ausência de meu pai

Quando me falta sorte ou gratidão
Quando grito, esperneio ou choro em vão
Se acredito que o amor é ilusão

Ela, Ela acende uma vela
Ela, Ela acende uma vela
pra mim

É claro que transporto a idéia para dentro de  minhas próprias convicções! Não entendo a letra como desenvolvimento da frase tão repetida: "Reze por mim" ou "Rezarei por você"... Gosto do símbolo da vela, que indica que a mãe faz um desejo de luz para o filho quando ele vê apenas escuridão!  E a outra é "Alma Grande", que ele escreveu quando o pai faleceu! Achei tão especial o modo como ele encoraja o pai a seguir em frente e encontrar sua alma. Acho que nunca ouvi nenhuma outra canção cantar sobre a morte com sentimento tão genuíno e sem apego assim, como no trecho: "... Segue sem saudade de onde vem. Vive o ponto onde mira o seu olhar. Desespero e medo não lhe convém. Com seu novo manto caminhará e não caminhará só jamais".


Poesia assim engrandece mesmo a alma da gente!

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Bodas


Um casamento na familia sempre faz a gente pensar no assunto! Qual o verdadeiro significado de se casar?! Sim... porque muitos se casam por motivos equivocados. Vide a quantidade de divórcios que pipocam por aí... Muitos casam-se por medo de passar o resto da vida sós...antigamente as mulheres se casavam para fugir do jugo de pais muito severos, casavam-se para legitimar a vida sexual que desejavam ter. Mas hoje, com paradigmas sociais mais flexíveis, por que haveríamos de querer nos casar? Percebo que ainda existem pessoas que vêem no casamento a promessa de uma liberdade que não têm e no fim reclamam de ter trocado uma algema por outra. Ainda existem machismos extremos (por parte de homens e mulheres) que vivem o casamento com papeis muito bem definidos onde o homem provedor controla uma mulher submissa que torna-se escrava doméstica /sexual.

Hoje as mulheres podem ser independentes (se assim quiserem) e não precisam aceitar uma relação unilateral, mas ainda romantizam o matrimônio, e no fundo acham que a submissão faz parte do jogo. Longe de querer denegrir esta instituição, vejo que cada um tem idéias muito próprias sobre o que quer receber de um casamento. Mas é raro alguém que realmente pense no que pode dar de si mesmo quando chega a hora de celebrar esse rito de passagem arquetípico.

Claro que também há aqueles que casam-se sem ter idéia nenhuma do que seja o casamento, vivem os preparativos intermináveis da cerimônia, a escolha do vestido, dos presentes, dos convidados ... e não constroem a base necessária para a vida em comum que se iniciará depois da celebração! O verdadeiro casamento só começa depois disso, afinal a cerimônia devia apenas simbolizar uma união e um compromisso que já existem. 

Numa época onde o individualismo é tão valorizado (apesar da solidão epidêmica que contamina toda a sociedade), fico me perguntando por que alguém ainda se casa?! Daqui a pouco estarão se desentendendo, brigando por ninharias, disputando algum controle sobre o outro. Então percebo que a humanidade é composta de otimistas! Mesmo sabendo de tudo isso, têm a capacidade de ignorar os fatos por completo e pagar pra ver se conseguem viver o ideal que almejam! Daí que cada um tem um ideal tão diverso do outro que fica difícil manter a harmonia.

Posso parecer muito negativa, mas ainda acho que casamentos verdadeiros... amores pra vida inteira... só acontecem quando se pensa no que você pode dar para o desenvolvimento individual do outro (ao invés de pensar no que quer receber). O Flavio Gikovate, que é referência no assunto, diz que geralmente os casais são compostos por um individuo generoso que doa e outro egoísta, que só recebe. É matemática! Nunca poderia haver harmonia assim. Dois egoístas também não melhoram muito o resultado da conta! Mas dois generosos?! Esses sim, acho que têm alguma chance!!!

A conclusão é que generosidade é amor posto em prática (que frase mais Khalil Gibram). E amor não se parece com posse ou cobrança. Amor não é receber, é doar! E quando a gente doa de coração aberto não pode esperar receber nada em troca... Claro que isso não é pra justificar as uniões entre generosos e egoístas, porque continuar dando pra alguém que só recebe também não é amor, é escravidão! Então ficam aqui os meus votos de que cada um sozinho aprenda primeiro a ser generoso antes de fazer uniões que busquem apenas atender a desejos narcisistas!