sábado, 28 de fevereiro de 2009

In the middle of your picture



Buscando inspiração para um job sobre trabalho infantil, eis que encontro este vídeo. Parte de um movimento da MTV para conscientizar os teens sobre questões relacionadas aos direitos humanos, o MTV EXIT, o clipe mostra as histórias de dois garotos que à primeira vista nada têm em comum, mas que se tangenciam de forma cruel. EXIT, aqui, é um acrônimo para "end exploitation and trafficking".

O trabalho infantil não é novidade. Existe, como o conhecemos, desde a invenção da máquina à vapor. Mas existe desde antes... Quando crianças podiam ter alguma atividade como aprendizes de um ofício. Acontece que a industrialização tira toda a nobreza desta tarefa porque quebra o ciclo produtivo transformando os trabalhadores em coisas e não em criadores de algo, como o eram os artesãos. Basta ler os marxistas para entender essa questão.

O menino oriental com certeza sofre de forma mais pungente os efeitos da lógica cruel da indústria. Mas o menino ocidental não pode perceber que sua condiçao é sofrível também. Pois é ensinado a acreditar na ilusão do consumo que define o individuo desde criança. Para resumir, pensem em Admirável Mundo Novo. Mesmo os alfas não são livres...

Consumo consciente é uma causa urgente para um mundo melhor. Mas consciência é uma busca individual que não pode ser imposta. Um mundo melhor só pode nascer dentro de cada um... E isso vale para todos indistintamente... tanto o garoto do primeiro mundo quanto o subdesenvolvido. A estrutura de um mundo em que habitam indivíduos livres é totalmente diversa e, até certo ponto, inconcebível para nós pois seu equilíbrio não depende da dialética de classes... e isso é uma coisa muito difícil de ser concebida na atual conjuntura do desenvolvimento humano que atingimos.

O que quero dizer é: para construir um mundo novo ele tem que ser mesmo novo. Desde o começo. Não se constrói um mundo novo impondo como modelo os fundamentos do sistema dominante. Não há como pensar em consumo consciente sem antes pensar no próprio conceito de consciência e começar a enxergar que de um lado ou de outro da moeda fazemos parte da mesma lógica que aprisiona a essência de cada individuo. Está tudo aí no meio da foto, é só aprender a ler as entrelinhas! Só então poderemos perceber o quanto realmente algumas coisas custam...

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Movimento


Que modo estranho de pensar a vida supondo que ela comece pelo fim e termine pelo começo! O blockbuster "O curioso caso de Benjamin Button" tenta responder (e responde) à fatídica pergunta: O que ganharíamos se nascêssemos velhos e morrêssemos jovens?

Nada! Não ganharíamos absolutamente nada. O protagonista ganha e perde as mesmas coisas que perdemos ou ganhamos quando vivemos seguindo a linha natural do tempo. Vivencia o nascimento, a morte, o primeiro amor, os primeiros pêlos, as decepções e alegrias e tudo o mais! A lógica é a seguinte: a ordem dos fatores não altera o resultado.

Visto da perspectiva do plano físico, material e terreno pouco importa a cronologia em que a vida é vivida pois as exatas mesmas situações irão se apresentar. Mas visto de um plano espiritual, etéreo e sutil depreendemos que é o que colhemos destas situações, e principalmente, o que processamos delas que nos definem despertando a consciência de quem somos... de quem queremos ser.

O que vale a pena nesta história é o que vale a pena em qualquer história: perceber o movimento que provoca cada mudança e cada alteração na biografia de alguém. Os momentos azuis que nos tornam quem somos. A falha do filme foi essa: o que poderia fazer com que ele fosse especial , ficou escondido nos cantos mais recônditos das entrelinhas.

Benjamin avistou tantas perspectivas quanto alguém que é verdadeiramente livre pode se permitir avistar. Por sua condição única, acabava sempre por abandonar as zonas de conforto que fazem qualquer um de nós nos acomodar e deixar de ser. Viver de trás pra frente não importa, desde que os limiares das zonas de conforto não se tornem cercas, muros e finalmente barreiras para que a expressão do ser individual deixe de atuar, deixe de buscar, deixe de agir e finalmente de ser.

Mudar de ares, de cenário, mudar de vida é o que faz com que conservemos a juventude. Manter-se aberto e desperto. Não se enrijecer e calcificar dentro de condicionantes criadas por critérios puramente aleatórios e na maioria das vezes infundados é a juventude que podemos ganhar após envelhecer o corpo físico, tendo vivido todos os embates que a vida propõe sem ter se escondido covardemente.

Coletivamente, o exemplo dessa rigidez são os não-lugares criados pelo mainstream capitalista que definem para toda a cultura global conceitos unilaterais etnocêntricos. Afinal, por que aeroportos, shoppings centers, cadeias de grandes redes mundiais de restaurantes e lojas são idênticos em qualquer lugar do planeta? Para que nenhum filho do sistema dominante sinta-se fora de casa, mesmo quando fora de casa está. Principalmente quando fora de casa está! Para que creia na ilusão de que o mundo como ele vê é sua casa e que sua casa está em toda parte.

Esse filme do Benjamin, apesar do vazio que provoca, não faz sucesso só por conta do rostinho bonito do Brad. Mas porque nos aprisionamos na ilusão da passagem do tempo que nosso corpo físico denota ao longo de toda uma biografia.

Eu celebro o fato de tudo ser transitório! Menos a Verdade. Até o blog está de cara nova, só pra comemorar!!!



quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

O Poder do Conformismo



Em tom de pegadinha do faustão, o videozinho mostra como pressões de grupo atuam sobre os individuos. A situação exemplificada é banal, mas transportado para as demais esferas de atuação torna-se incômodo perceber como paradigmas sociais são construídos e adotados sem praticamente nenhuma resistência individual.

Torna-se extremamente dificil discernir entre o que é de fato legítimo na sociedade ou o que foi legitimado mediante esta poderosa ferramenta de persuasão. Torna-se desesperador perceber que individuos genuinamente gregários, como somos nós os humanos, nos adequamos à fôrmas sociais muitas vezes contra nossas próprias convicções somente para nos integrarmos ao comum.

Apesar de que, pensando bem, se vamos contra nossas convicções não passamos de traidores de nossa própria individualidade. E se ignoramos qualquer convicção (como o último sujeito, do chapéu) daí não temos alternativa a não ser "não ser"! Ou seja, abrimos mão do que creio ser o que viemos buscar neste mundo terreno: nossa consciência individual.

Mas a dúvida permanece: Onde preservar em segurança nossas convicções mais profundas para que não sejam abaladas por paradigmas sociais?

Vivemos a era das redes sociais. E no entanto, essas redes não são reais. Não no sentido literal da palavra. Elas são virtuais. Moram em computadores. Habitam a vastidão não colonizada das zonas cinzas que, por enquanto, a ninguém pertencem. Nos vemos sem saída mediante o apelo inocente delas... Acreditamos que sejam legítimas e que ninguém ousaria se utilizar delas para fins malignos.Acreditamos porque todos acreditam. Aquela história de que em terra de cego quem tem um olho é rei, deveria ser reescrita: Em terra de cego, quem tem um olho não é ouvido, pois deixa logo de existir!

Enfim, encerro aqui com toda a perplexidade e consternação diante do imenso ponto de interrogação que lancei um parágrafo acima! Mas não sem antes tornar o exemplo do elevador um pouquinho mais dramático. Este vídeo aqui pergunta: Você tem um facebook?

Facebook é uma rede social virtual. O filminho responde a pergunta que o intitula com outra pergunta: Você já pensou na privacidade que arrisca? Redes sociais são versões modernas de cartões de identidade (só pra seguir a cartilha das teorias de conspiração). Nós acreditamos que não precisamos ler as letrinhas miúdas dos termos de serviços e clicamos em "Submit" somente porque todos estavam de costas no elevador. Mas devíamos. Devíamos ter a atitudade mais natural e, no entanto, a mais inédita "Ei, pessoal, porque estão de costas para a porta do elevador? Como vão saber que chegaram no seu andar? Onde foi publicada esta nova forma de postura em elevadores? e assim por diante...

Acho que acabei respondendo aquele imenso ponto de interrogação: As interrogações são as ferramentas certas para preservar e atingir convicções. Perguntar, perscrutar, inquirir é tudo o que podemos fazer para que alguma Verdade seja mantida em um mundo em que verdades temporárias e multifacetadas dominam e subjugam a verdadeira liberdade do indíviduo.

Para as crianças

Um Ecozoo com historinhas engraçadinhas que mostram aos pequenos um pouco sobre como viver em harmonia com o meio ambiente. Os bichinhos são umas graças e é tudo muito amigável! O site mostra um universo único à partir de embalagens recicláveis e folhinhas esvoaçantes. Pena que só em inglês e japonês!!! Melhor considerar matricular seu filho numa escola bilingue... Eu amei o som dos passarinhos que me fez esquecer que tem uma São Paulo cinzenta lá fora.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Ssshhhh...


"A gente quer se afastar de si próprio... Pra isso é que o muito se fala.
O senhor sabe o que é o silêncio?
O silêncio é a gente mesmo, demais"


Guimarães Rosa


Essa frase linda abre uma matéria sobre o silêncio que saiu na revista TPM de dezembro. O artigo discorre sobre como todos os gadgets eletrônicos preenchem nosso cotidiano e nos obrigam a ficar ininterruptamente online. O impulso por se sentir constantemente conectados (e falsamente integrados) faz com que nos afastemos de nosso próprio interior e não nos aprofundemos em nada mais... No fim da matéria, o depoimento de uma mulher faz perceber que nem um retiro para meditação faz a voz de sua cabeça e coração se calarem. Acha impossível cessar sua conversa interminável de si para consigo própria. E entende que o fato de se calar para os outros fez com que se encontrasse consigo mesma, mesmo em sua eterna tagarelice.

Eu confesso que fiquei frustrada com a conclusão a que esta mulher chegou. Quero dizer, ela continua tão superficial quanto se continuasse falando pelos cotovelos com os outros. Afinal, continuou falando para si e sem se aprofundar. Sem fazer calar pensamentos que ocorriam como uma torrente, não pode entender a força que o silêncio contém. E mesmo no silêncio, são quantos os sons que nossa capacidade auditiva não permite ouvir? E que seres poderíamos ser se não tivêssemos nos esquecido de como ouvir "um astro pelo céu, a música do vento e a matéria em decomposição"?

Falando tanto, ela não pode perceber que o silêncio pode mesmo atuar como um fermento sobre determinado pensamento e fazê-lo crescer pois o liga a tudo o que é similar e da mesma espécie. E é esse o verdadeiro sentido de integração. Porque conecta pontos à partir do si mesmo, o que é demasiado individual, o eu genuíno. Talvez seja mesmo por isso que silenciar é tão dificil. Tememos as modificações que esta força pode causar, tememos encarar quem de fato somos. Preferimos flutuar na rotina vazia da superficialidade e deixar tudo como está.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

El Che

Esse é um post que venho ensaiando há um tempo... Assisti ao trailer do filme/biografia Che (e não vejo a hora de assistir ao filme), de Steven Soderbergh que traz Benicio del Toro no papel do grande revolucionário romântico que acreditava ser possível endurecer sem jamais perder a ternura. E uma das coisas que me intrigaram foi justamente isso: para Che a mais importante qualidade que um revolucionário deve possuir é o amor. Amor pela humanidade, pela justiça e pela verdade. No entanto, ele é tido por muitos como assassino cruel e um psicopata covarde (segundo uma carta de um leitor indignado da Revista Superinteressante... aliás toda a seção de cartas em que publicaram as opiniões referentes à edição de janeiro é tão arrebatadoramente polêmica que apresenta visões extremas e acaloradas sobre o médico argentino que se tornou mito), então onde está o amor?

Acho dificil julgar a luta de um homem que se fundamenta no amor em seu mais puro sentido e que colocou a própria vida à disposição de um povo que nem era o seu. Acho dificil ter uma opinião extrema sobre um homem que era isso: um homem. Não acredito que o objetivo de sua luta era tornar-se um herói ou mito perante a sociedade. Quem cria heróis ou mitos são os governos e as próprias pessoas telespectadoras que legitimam essas vozes. Aliás, no mesmo trailer, uma jornalista pergunta à Guevara: "Como você se sente sendo um símbolo?" e ele responde "Símbolo do que?". E aí o trailer acaba.

E aí é que começa: Símbolo do que? é a pergunta ponto de partida para se descobrir quem foi Che. Mas a verdade é que quem ele foi não é mais tão importante quanto saber quem ele é. Ou senão, não teria mais relevância falar sobre ele agora que o socialismo ruiu. Não continuamos a falar dele porque ainda queremos acreditar no socialismo, continuamos a falar dele porque queremos descobrir o que há para aprender sobre o homem que ele ainda é. Que sentido ainda faz nos dias de hoje.

A chave para isso não está no julgamento que podemos fazer das ações de Che naquele passado em que viveu. Afinal o que sabemos daquele passado vem intermediado por tantas vozes que nada mais poderá se apresentar claro e transparente. No trailer ele diz: "Para sobreviver aqui e para triunfar, é preciso viver como se já estivesse morto". Quanto se pode entender dessa afirmação?! Como se vive como se já estivesse morto? Eu acredito que só quem pode responder é o próprio Che. Em seu contexto suas escolhas eram a patria ou a morte. Em nosso contexto é possível que tenhamos muitas outras escolhas. Então é preciso entender que se revolucionários são guiados pelo amor à humanidade, Che foi prisioneiro de uma condição muito triste. Pois tudo o que sabia fazer era lutar por justiça. Por isso que foi um político incompetente e por isso morreu da forma horrível como morreu. Era romântico porque acreditava que podia lutar por liberdade e entregar um mundo mais justo para milhares de pessoas. Não via que a mudança se faz no interior de cada um. Que é preciso que cada um mude para que tudo ao redor mude.

O mundo que ele via habitava somente em seus olhos e não nos olhos dos outros. E não é possível transformar o mundo se todos não o enxergam modificado! Che permitiu que o amor puro que sentia o guiasse, talvez tenha se deixado cegar pelo que seu coração mostrava. Não poderia ter vivido de outra forma. E no entanto, as pessoas teimam em querer guardá-lo ou na gaveta do bonzinho ou na do malvado. Por que não percebem que o que realmente importa é ver que ele teve coragem de deixar que um ideal guiasse sua caminhada pela vida? E que se cada um seguisse um ideal grandioso por sua vez, os olhos de todos poderiam contemplar um mundo verdadeiramente modificado.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

It's a new dawn



Essa música é para mim um hino de como a vida deve ser vivida para ser plena e valorosa! A receita está toda nisso: A sintonia com o ritmo da natureza faz a vida ter sentido. E quando digo "ritmo da natureza" isso tem outros nomes como "leis da criação" e "vibrar do universo". E olha que a voz da Nina Simone ajuda muito nessa sensação de vibrar! A própria simplicidade dos versos é vibrante e não deixa subterfúgios para interpretações obscuras! Enfim, um näif do jazz!!!

Outro conceito que acho crucial e que mora no cerne dessa letra é a liberdade: Só se é livre quando se encontra o mapa de casa e se trilha o caminho de volta, seguindo as indicações do caminho. Ao contrário do que muitos acreditam liberdade não é sinônimo de inconsequência, mas de consciência conquistada (só que isso é papo para quem sabe outro post!).

Então taí, uma canção que tem o poder de uma descoberta, daquelas que gostamos de descobrir porque na verdade já a sabíamos, e que é uma prece de comunhão e agradecimento por todas as coisas belas que ainda perduram nesse mundo:

"Pássaros voando alto, vocês sabem o que eu sinto
Sol no céu, você sabe o que sinto
Brisa que flutua no ar, você sabe o que sinto

É um novo alvorecer
É um novo dia
É uma nova vida
para mim
... e como eu me sinto bem!

Peixe no mar, você sabe como me sinto
Rio que corre livre, você sabe o que sinto
Florir das árvores, vocês sabem o que sinto

É um novo alvorecer
É um novo dia
É uma nova vida
para mim
... e como eu me sinto bem!

Libélula na luz do sol, você sabe o que quero dizer não sabe?!
Borboletas se divertindo vocês sabem o que digo
Dormir em paz quando o dia acaba,
é o que digo!
E esse velho mundo
é um novo mundo e um mundo valoroso para mim

Estrelas quando brilham
vocês sabem como me sinto
Aroma de pinho, você sabe o que sinto
Oh! A liberdade é minha e eu sei como me sinto!

É um novo alvorecer
É um novo dia
É uma nova vida
para mim
... e como eu me sinto bem!"